10 Considerações sobre Sobre deuses e seres rastejantes, a balada de Gundrum, de Piaza Merighi

O Blog Listas Literárias leu Sobre deuses e seres rastejantes, a balada de Gundrum, de Piaza Merighi publicado pelo Talentos da Literatura Brasileira; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Com desfecho inesperado, de certo modo uma reviravolta quase improvável, visto que a narração em primeira pessoa torna um tanto quanto abrupta tais mudanças, A balada de Gundrum é aventura com a alma do RPG e ótima opção nacional entre leitores aficionados por romances de espada e magia;

2 - A bem da verdade o livro apresenta evolução do autor se comparado a sua primeira publicação, O Conto de Y, que também é boa fantasia. Neste novo livro veremos personagens críveis, arquétipos bem estruturados (e nomeados de acordo com o que esperamos de uma narrativa de fantasia), um cenário bastante imaginativo e um enredo que a despeito das surpresas que nos apresenta, é bem tramado, mesmo que acabemos talvez não concordando com as soluções finais, no caso encaminhamentos para novas aventuras;

3 - Diz-se isso justamente pela reviravolta na parte do final, algo que, guardadas as diferenças, toma caminhos como os da série Game of Thrones, especialmente ao deturpar todo e qualquer heroísmo que acabam corrompido pelo poder e seu brilho embriagante. Não é nossa tarefa aqui julgar a escolha, mas como toda leitura, compreendê-la, de modo que os caminhos por quais enveredam-se seu narrador-protagonista Gundrum, um minotauro bruxo, acabam refletindo estes tempos de valores dúbios e cuja lei resume-se à força;

4 - Claro, tais observações apontam para qualidade e eficiência da narrativa, pois não nasce morta, já que acaba provocando em seu leitor interessantes e relevantes questionamentos, de modo que Merighi consegue avançar o mero entretenimento, ainda que, diga-se, a narrativa cumpre também com êxito a proposta de uma jornada escapista por terras habitadas por criaturas fantásticas e mágicas envoltas numa grande aventura. Nesse sentido é uma narrativa bastante tradicional;

5 - É, portanto, uma curiosa e boa revelação do gênero nacional e uma das melhores novas narrativas do nosso fantástico. Bem escrito e com um narrador eficiente, a narrativa reúne como dissemos, os melhores elementos do gênero espada e magia com os elementos e arquétipos do RPG, o que faz da obra, grande potencial num nicho com muitos e aficionados leitores. Deste modo Gundrum leva-nos por uma jornada cheia de reviravoltas e embates marcados pelo embate visual tão pertinente à fantasia;

6 - Assim, com cenários incríveis e criaturas criativas, o livro reúne grande potencial. Aparentemente uma jornada do herói que acaba sendo maculada por decisões de seu protagonista, e aqui, toda a questão envolvendo o narrador. Por tratar-se duma primeira pessoa, protagonista e ativa nos andamentos da jornada, o desfecho, ou melhor, a mudança moral do narrador acabará trazendo um ponto de forte inflexão na leitura, pois que o leitor passará a questionar-se quando tais comportamentos deveriam ser identificados. É talvez o maior risco que corra o autor quanto a incompreensões, pois que é sempre arriscado as soluções que apresenta, estando elas neste tipo de narrador. Mas eis a graça, certamente, da escrita;

7 - Feitas tais considerações, no restante precisamos dizer que a leitura corre em ritmo fluente e condizente com a aventura de Gundrum, que de repente nota seu universo impactado por novos perigos e ameaças, um antagonista com poderes míticos e com a intenção de invocar deuses rastejantes para impor uma nova ordem política, baseada na força e tirania;

8 - É quando então o minotauro passa a envolver-se com outros personagens não menos curiosos e a peregrinar por diferentes espaços e eventos, sempre permeados pela magia e pela aventura, com combates bastante visuais, como geralmente requer o gênero;

9 - Todavia, se podemos salientar pequenos elementos a se melhorar nesta fantástica jornada, são pequenas contradições como e reiteração de seu narrador a conversar com um símio, sendo ele próprio um minotauro, uma criatura estranha aos olhos humanos, e não apenas ele, mas também seus próprios parceiros de jornada. Além disso, embora essa primeira entrada no universo Aldaman instigue a sequência de uma série, personagens como Morween acabam desaparecendo do enredo sem que encontre-se uma solução, ou pelo menos, algum indicativo de futuro. Sentimos falta deste tipo de fechamento;

10 - Mas enfim, de modo geral, Sobre deuses e seres rastejantes é uma grata surpresa na fantasia nacional, e como leitor de muitas novidades desse gênero, posso dizer que o livro está entre seus melhores exemplos pois nos apresenta de forma eficiente os elementos requeridos para uma boa narrativa de espada e fantasia, agregando-se ao seu potencial de entretenimento, bom material de discussão e debate, especialmente sobre a presente tendência de tiranias substituindo tiranias no universo ficcional do fantástico.



12 Comentários

  1. Ei... eu li esse livro O_O! Vi uma resenha num outro blog e criei coragem para comprar. Na parte da Morween para mim é meio óbvio que ela volta numa eventual sequencia (pelo final fica meio claro que terá uma), então a destinação dela não me incomodou, mas enfim... O que me agradou mais foi quanto o autor é 'fora da casinha', e não se prendeu naquelas convenções padrões de elfos, anões e blablabla, escolhendo um caminho diferente.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é Anthoine, sim a sequência fica bastante clara, mas procuramos aqui deixar tudo dito. Concordo que o livro respeitando o gênero é capaz de trazer alguns elementos diferentes da média que vimos, isso lhe possibilita um mundo particular e autoral.

      Excluir
  2. Parece interessante, confesso que a capa chamou minha atenção e sua análise me deixou curiosa. Acho que vou dar uma chance

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sempre é bacana nos aventurarmos por fantasia nacional. E essa é uma chance que pode trazer surpresas.

      Excluir
    2. Bom, eu de novo , e juro q não achei que responderiam meu comentário ^^ . Já abusando da sua paciencia, voce pode falar como é a questão do 'romance' nesse livro? Se é fluido, forçado ou inexistente? Ando meio cheia dessas fantasias que forçam casais embustes

      Excluir
    3. Bem, o romance é fluido e a questão do "romance" como colocas, bem, talvez ele sequer exista... ainda que tenhamos uma narrativa erotizada, o que é um detalhe interessante de análise na obra.

      Excluir
  3. Gosto de fantasia, e finalmente achar um livro com um um monstro como narrador é uma lufada de ar novo.Sua análise e essa capa meio savana estão me dando comichoes pra ler

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é Anne, para comichões só uma solução, "coçar". O narrador tem suas peculiaridades, depois nos conte o que achou da leitura.

      Excluir
  4. O ponto de vista do narrador é um minotauro? Pode ser interessante

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não só um minotauro, mas um minotauro que é também um feiticeiro e...

      Excluir
  5. Esses dias estava procurando resenhas desse livro para decidir se valia a pena comprar ou não. Vi uma do blog da Kenia Cãndido que me deixou animado e agora com seu endosso acho que vou arriscar. Não me incomodo que uma história tenha "alma do rpg" desde que esse não seja o foco principal, e parece que nesse não é o caso

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alan, de fato tem a alma do RPG, mas fica tranquilo, não trata-se de um jogo, pois é literatura de fato, com enredo que privilegia o gênero espada e magia.

      Excluir
Postagem Anterior Próxima Postagem