O Blog Listas Literárias leu A escolha de Gundar, de A. N. Bruno publicado pela editora Labrador. Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Fantasia de possibilidades, A escolha de Gundar apresenta-nos um mundo em declínio, quando estranhas forças alteraram a ordem normal do planeta, jogando-o a tempestades, ventos, longas noites ou longos dias cuja mensagem mais forte é de desacerto extremo e radical capaz de levar o respectivo universo a sua extinção. É por este cenário que percorre o protagonista, Capitão Gundar, um desertor político que acaba não aderindo à tirania de seu soberano e que em meio a esta fuga encontra um pequeno grupo que pode estar ligado ao destino de todos;
2 - Antes de tudo, porém, talvez seja preciso tratar de certo conflito quanto à narração do romance. As mensagens que antecedem determinadas partes do livro como "esta é a história tal como a ouvi de Altem, filho de Altem, o guerreiro vermelho" sugerem que trata-se de uma história a contar tempos remotos os que se desenvolvem durante a narração, que talvez justificasse uma voz no todo em terceira pessoa, mas que entretanto é narrada em sua predominância pela primeira pessoa do próprio Gundar. Claro, trata-se de sintonia fina, mas em caso de alguns leitores, tal escolha pode soar estranha ou conflitante;
3 - Além disso, no caso específico deste leitor acabou ocorrendo certa dificuldade de imersão na narrativa. É fato curioso, aliás, pois de modo geral é um trabalho bem desenvolvido e cuidadoso nos diferentes detalhes de sua produção. Lembrei-me daqueles programas de música em que alguém apresenta-se, tudo certinho, afinado, no ritmo, mas que no entanto acaba não cativando o jurado. Senti-me um pouco desta forma nesta leitura [certamente por questões minhas, não do autor], pois é uma narrativa bastante ajustada, tudo parece estar no lugar, no entanto, acabei distanciado, não fisgado pela jornada de Gundar;
4 - Essa é uma questão inclusive incômoda a um leitor que não apenas lerá a obra, pois que também publicará sua análise da leitura já que, busco sempre ser bastante justo para com os autores. Nesse sentido, a ideia de algo que parecer trilhar com correção e ainda assim não cativa é incômoda, pois que mesmo aqui no blog se publicaram análises menos positivas, as razões estavam claras, o que não e o caso aqui. Tudo parece ficar nublado tal como o ambiente em que se desenvolve a narrativa de A. N. Bruno;
5 - Mas dito isto, tratemos de algumas questões que podem estar ligadas a algumas posições já comentadas. Vivemos uma grande diversidade de narrativas de fantasia publicadas e que exigem dos autores não só inventividade nas tramas, mas na própria identidade de suas personagens que normalmente demandam nomes criativos. Os deste romance o são, mas confesso que as possíveis pronúncias ou mesmo referências de pronúncias podem soar estranhas, o que, não raro, torna a leitura um tanto mais lenta;
6 - Aliás, embora com batalhas, descobertas e uma jornada andante como carece ao gênero, há certa lentidão no andar da narrativa, talvez pela sisudez que talvez procure dar mais autenticidade ao universo sob ameaça iminente de um total apocalipse, da extinção de seus habitantes, tudo isso combinado com a descoberta de Gundar de que a magia aparentemente desaparecida, parece retornar agora com toda violência;
7 - É o que ocorre quando ele encontra Minuit, uma jovem dotada de poderes, e que não apenas poderá ser meio de restabelecer o ordenamento natural do mundo, mas também recompensar-lhe em desejos pessoais capazes de desfazerem suas tragédias familiares. É o que acaba colocando-o no meio de um grupo ancestral de boticários - magos - que além de conhecerem diferentes poderes do universo, vivem em conflitos internos que levam ao desfecho do romance e ao prelúdio de uma série;
8 - Portanto, em tese, temos uma narrativa com muitas perspetivas, bem escrita e bem tramada, mas que talvez na tentativa de transpor a sensação opressiva e em degradação de seu universo, acaba entregando-nos um texto tenso, sisudo e talvez sem alcançar a literalidade necessária a nos cativar; mais uma vez, isso no caso deste leitor específico;
9 - Desconfio que em parte tal distanciamento se dá pela tentativa de tornar misteriosa a jornada subtraindo do texto informações que já parecem de posse do autor. Na verdade, a questão é que parece haver certo exagero no tom enigmático da narrativa, e cujo desiquilíbrio acaba tornando ainda mais pesada a leitura;
10 - Enfim, A escolha de Gundar como disse é narrativa bem feita, com potencial e mesmo cores peculiares que a tornam original dentro do gênero. Curiosamente, no caso deste leitor, a narrativa acabou não envolvendo, mesmo que pareça seguir um caminho acertado.
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Resenhas
O livro "A escolha de Gundar" parece ser uma história interessante,apesar de não ser culpa do autor se o leitor não se sentir cativado.As vezes nós não conseguimos nos aprofundar na vida dos personagens.E também, muitas pessoas gostaram do livro
ResponderExcluirNomes: Bruna,Gabriella,Maria Luísa,Ana Júlia e Karla
Creio que vocês compreenderam bem a avaliação, nem sempre os autores são "culpados", às vezes não rola aquela química. Aliás, a leitura tem disso, mesmo os clássicos quando bons, dividirão opiniões, e, com certeza, muitos leitores divergirão desta análise ;)
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