10 Considerações sobre Escrevi Suas Memórias Sem Querer, de Tonho ou sobre o amor em crônicas

O Blog Listas Literárias leu Escrevi Suas Memórias Sem Querer, de Tonho publicado pela editora Azo; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - A crônica é dos gêneros literários o genuinamente brasileiro e a despeito de sua pretensa simplicidade, é capaz de levar-nos a múltiplas reflexões. É o caso deste livro que reúne textos de Tonho, do perfil @escrevologoexisto, que numa ampla seleção de textos apresenta seu domínio não apenas sobre o gênero, mas da própria linguagem que aqui esta a serviço das coisas do coração e da alma;

2 - Na coletânea estão presentes dezenas e dezenas de crônicas que de modo geral tratam dos aspectos do coração e da alma, falando de paixão, amor, sabores e dissabores, sendo que a grande unidade entre todas elas não está o tema, mas sim o modo de lidar com todas as situações, no caso destes textos, um convite ao romantismo e ao fator humano naquilo que há de bom na acepção da palavra humana ou humanidade. São textos que por seus olhares talvez utópicos trazem certa dose de ternura e esperança, material que convenhamos, anda bastante raro por aí;

3 - Tudo isso talvez porque a principal característica do texto de Tonho esteja no altruísmo inerente não só ao autor mas aos diferentes narradores que nos apresenta e suas crônicas que por vezes flertam com microcontos. Há em cada crônica a tentativa de entender o outro/outra. Há a busca por colocar-se no olhar alheio, há a capacidade de relevar e perdoar se preciso. Em cada crônica trilha-se a busca pela compreensão e tolerância aos pequenos - mas gigantes - dramas dos sentimentos, da vida em si;

4 - A bem da verdade em suas crônicas o autor apresenta-nos um modo de encarar as relações, os sentimentos. Quase sempre com a ingenuidade parece perdida ou extirpada dessa sociedade presente tão visceral.  Nas diferentes crônicas temos um convite ao comportamento que alguns diriam "zen", mas que prefiro dizer humanista, equilibrado, tolerante;

5 - Isso não significa dizer que as crônicas aqui não passeiem por lugares espinhosos do coração e da alma, pois perdas, desencontros, separações e dores impulsionam as letras do autor, contudo, parece-me que está na fora altruísta, pacífica e humana de enfrentar tudo isto é que escondem os verdadeiros ensinamentos da publicação;

6 - Aliás, sei que por vezes perco-me em elogios em algumas leituras, mas é que algumas propostas nos levam de fato a querer valorizar muito mais suas virtudes. É o caso desta coleção de crônicas, visto que trata-se de um texto de quem sabe o que esta fazendo, coberto plenamente pela identidade de seu autor num projeto que compreende a si mesmo e quais seus objetivos, sendo dentro de seu gênero um belo e dos melhores exemplares;

7 - Além disso, há toda a versatilidade do autor em eximir-se e dar voz a tantas outras vozes, pois inspirando-me pelo lirismo de sua prosa, poderia dizer que ele dá vazão a diferentes "eus líricos", diferentes narradores e, com uma grande capacidade de mutar-se independentemente do gênero de seu narrador e as personagens de suas crônicas. Penso eu que essa capacidade está diretamente ligada ao altruísmo aqui já falado, pois Tonho é capaz de colocar-se no lugar muitos outros e muitas outras, esta uma capacidade, penso eu, que separa escritores e escreventes;

8 - Por isso o título deste livro é bastante sintomático de modo que sintetiza tudo o que tenho falado até agora, pois que autor ao dar vazão a diferentes dramas aparentemente cotidianos, mas certamente reconhecíveis por todos nós, desde a capa coloca-se na posição daquele que não fala por si, mas pretende-se como voz de seu leitor. É por certo desafio audacioso, no caso deste livro cumprido com êxito, pois tal interação dialógica e dialética é conseguida com autoridade;

9 - Por outro lado, vale dizer que ao exprimir em suas crônicas a memória alheia, a memória de todos aqueles que vivem, pois todo ser vivente por certo deparou-se com alguma experiência presente no vasto conjunto de crônicas, Tonho reflete novamente a doçura da boa ingenuidade, pensando que todos os seus outros soariam com seu respectivo altruísmo. Nestes dias difíceis e passionais esta ingenuidade talvez seja mais que uma esperança, mas também a sinalização de formas mais agradáveis de enfrentarmos nossas paixões;

10 - Enfim, para quem curte crônicas e acima de tudo procura por uma mensagem altruísta e uma alma intensamente humana na acepção positiva de humanidade, este livro é por certo uma boa novidade entre os leitores brasileiros. Com boa dose de meiguice e bom astral o livro é um convite a encararmos não só as paixões e o amor com altruísmo, serenidade, paz e tolerância, mas todo o mundo. O viver propriamente dito.


       

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