O Blog Listas Literárias leu Dracul, de Drake & J. D. Stoker publicado pela editora Planeta e selo Minotauro; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Dracul parte dos manuscritos perdidos de Bram Stoker para não só revisitar o mito de Drácula, mas mais do que nunca para colocar autor e criatura num círculo tenebroso de horror e mistério retomando a tradição clássica da mitologia dos vampiros num romance capaz de pingar sangue;
2 - Para tanto, voltamos à Europa e a Dublin de Bram Stoker nos anos de 1847 e 1868 numa trama construída a dar asas à imaginação colocando a ficionalidade de Drácula sob suspeição e propondo que um dos maiores clássicos da literatura (e do horror) teria na verdade sido registro de experiências reais - e assombrosas - do próprio Bram Stoker;
3 - Com isso, o autor então passa a ser personagem e protagonista de uma nova obra que se dispõe a envolvê-lo diretamente na experiência com Drácula. Aliás, vale dizer que a narrativa dos herdeiros de Stoker ao mesmo tempo que traz luzes alternativas ao romance, não deixa de ser fiel a ele, em especial pela manutenção em grande parte da fragmentação de vozes expressas por diários, notas taquigráficas e epístolas, assim como na obra original. Tal construção é quebrada na terceira parte quando os autores partem para uma narrativa em terceira pessoa;
4 - Aliás, vale comentar que ao final do romance a nota dos autores apresenta diferentes e misteriosos acontecimentos relacionados ao livro e à vida dos Stoker que dão vazão a esta nova e conspiratória narrativa e que ajudam inclusive a pintar com as tintas dos segredos e dos mistérios, ainda mais este Drácula, dos vampiros o mais lembrado, certamente;
5 - Dito isto, penetramos então a narrativa deste Dracul, como já apresentado aqui, narrado pela fragmentação de vozes, especialmente dos diários de Bram e seu irmão Thornley e as cartas de sua irmão Matilda, mas também de personagens que historicamente estiveram no convívio de Bram, como Arminius Vambery e a babá Ellen Crone;
6 - Aliás, o romance parte de lapsos mas também de acontecimentos históricos ligados à Bram, sua família e ao próprio processo de escrita de Drácula, em especial as cem primeiras páginas retiradas do original, a doença e a cura de Bram, e no caso deste romance especialmente a presença misteriosa da babá Ellen na vida dos Stoker;
7 - A partir destes elementos Drake e J. D. amarram uma trama em que o próprio Bram Stoker vê-se a volta dos universos dos vampiros e numa caçada que perdura séculos. Tudo isso levá-o a um universo noturno e sombrio cuja experiência poderia tê-lo levado a registrar os acontecimentos macabros e sangrentos no livro que permanece ainda hoje entre nós;
8 - Vale condizer contudo que a narrativa ao passo que lança "dúvidas" quanto a experiência vampirística do autor, não descuida porém de reunir os principais elementos a constituir as tramas clássicas do horror, partindo da luta entre a vida e o bem contra os demônios, encarnados nos vampiros, estando fortemente calcada então em conceitos sobrenaturais da era cristã e envolvendo-os dos elementos atmosféricos que dão o clima tenso deste tipo de narrativas, como mortos-vivos putrefatos, fantasmas belos e encantadores, floretas e pântanos macabros, relíquias tenebrosas, e claro, seus vampiros;
9 - Nisso vale dizer que retoma-se o caminho clássico do horror em que a dualidade de sedução e monstruosidade entrelaçam-se na figura de vampiros clássicos, portadores de maldades e vilanias assustadoras e destituídos da romantização contemporânea. Voltamos então às raízes do horror e às suas tradições numa narrativa que certamente retoma os mistérios e os perigos destas criaturas noturnas;
10 - Enfim, Dracul é para os fãs do gênero um novo suspiro e mesmo adentrando uma das histórias mais revisitadas da nossa cultura, dessa vez o faz como nenhuma outra, e com bastante autoridade e naturalidade. É certamente boa leitura para os fãs das vertentes clássicas que dos vampiros não esperam nada mais do que muita sede de sangue, lugares assombrosos e aquele frio na espinha que o sobrenatural nos proporciona.
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