10 Considerações sobre A Mente de Deus, de Dr. Jay Lombard

O Blog Listas Literárias leu A Mente de Deus, de Dr. Jay Lombard publicado pela editora Cultrix; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - A Mente de Deus reúne reflexões do neurocientista Dr. Jay Lombard acerca de seus estudos e de seus questionamentos espirituais em que procura unir ciência e espiritualidade fortemente ancorado em suas experiências e convicções pessoais;

2 - Em tese, o autor em suas reflexões procura a partir de lacunas científicas a seu modo tenta comprovar a existência de Deus, o que, claro, é campo de diferentes polêmicas, sendo que vale dizer que o autor ao menos reforça na parte inicial que a grande parte dos cientistas caminha no sentido contrário que sua obra segue, que é tentar confirmar pelo suposto viés científico a comprovação de tal existência;

3 - Para isso, Lombard usa especificamente referências de pensadores de quando a ciência ainda engatinhava e de testemunhos e relatos de casos pessoais que vivenciou em família ou no trabalho, os quais parecem demandar dele a busca por explicações. Todavia, ao leitor distanciado das paixões que o assunto possa despertar, verá tranquilamente a espiritualidade avançar sobre a racionalidade científica;

4 - Na verdade, a este leitor ficou a sensação de que o autor procura usar de certa autoridade que possui para entrar numa seara perigosa que é de transformar ciência especulativa em ciência, pois como dito, poderá haver certa confusão ou falsa legitimação científica ligada ao status profissional do autor do que ao que relativamente está no interior de sua publicação, que embora com muitas suposições e perguntas, acaba não comprovando ou tampouco delineando alguma proposição clara quanto ao tema;

5 - O que quero dizer com isso é que a este leitor é que os argumentos do autor parte de uma falsa (não se toma aqui a palavra em sentido pejorativo) premissa de abertura a reflexão. A premissa é falsa porque aparentemente demonstra uma disponibilidade de abertura às diferentes perspectivas, e tenta postular uma aparente neutralidade, entretanto o autor mesmo depois clareia suas convicções, tornando ainda mais aparente de que menos uma investigação das dúvidas, acaba sendo uma tentativa de justificar suas crenças já concebidas, dai o pendente para o espiritual do que para a ciência;

6 - Além disso, de bases filosóficas frágeis e mesmo científicas quando para além da neurologia, o trabalho não consegue desprender-se de uma visão há muito superada de ter a humanidade com razão central da existência do universo, o quê, desde a descoberta que não é o sol que nos rodeia, mas o inverso. Na verdade é a velha petulância humana de crer-se o centro desta gigantesca e complexa coisa, e se por um lado esta seja uma visão bastante presente entre nós, contudo, quando se propõe a refletir a existência, acaba limitando um bocado de alternativas;

7 - Sem falar que em determinadas argumentações o autor acaba revelando grande fragilidade nesse campo, às vezes até mesmo, contraditoriamente, subestimando a imaginação humana. E talvez melhor exemplo disso quando debate a precedência da essência ou da existência através de uma frágil analogia da raquete de tênis levando-o a uma conclusão lógica que em debate facilmente cairia pelo argumento porque entre outras coisas, ele não leva em consideração, por exemplo, que a adaptação e a inteligência humana podem encontrar outras tantas funções para uma raquete de tênis. Vejamos por exemplo que um par destas perdidas num iglu de esquimó com um pedaço de corda poderá ser um para de sapato de tênis a despeito de sua existência projetada para raquete;

8 - Mas obviamente há valores na obra a despeito das possíveis críticas aqui relatadas, pois se temos elementos já apresentados aqui, como virtude, o trabalho de Lombard mostra que temos muitas coisas ou por explicar ou por compreender, e que há ainda casos e fatos que desafiam não só o conhecimento científico, mas também o espiritual;

9 - E nesse sentido, a obra passeia por dois campos de vasto terreno a ser investigado, a mente, e Deus. De ambos sabemos pouco e isso suscita dúvidas mas também pesquisas e estudos que pouco a pouco somam pequenas peças nesse provavelmente ilimitado e gigantesco mosaico que é não só o universo, mas a humanidade e sua existência nesse contexto;

10 - Enfim, ao lermos este trabalho é importante termos em mente a parcialidade do autor, e justiça a ele, é uma parcialidade assumida, ainda que talvez por sua profissão, possa ser esvaziada. O alerta que faço é que trata-se de um trabalho que se desenvolve monologicamente, e a este leitor, até mesmo pela dialética, tratam-se de temas de combustão e complexos o suficiente para uma perspectiva parcial. Dito isto, recomendo sempre distância crítica na leitura da obra, ainda que, claro, compreendemos sua destinação ao público espiritual.


     

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