O Blog Listas Literárias leu Jesus: Uma Reportagem, de Luiz Cesar Pimentel, publicado pela editora Seoman; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Jesus: Uma Reportagem é uma leitura interessante sobre um dos maiores personagens da história humana, cuja passagem pela terra deixou-nos marcas que independentemente de nossas crenças, dominam e orientam nosso cotidiano, fator esse que em parte leva a construção desta obra pelo jornalista Luiz Cesar Pimentel, que inicialmente apresenta-se como uma proposta de reportagem da vida desta personagem cercada ainda de tantos mistérios;
2 - Todavia, como o próprio autor problematiza em seu prefácio, a abordagem (consequentemente a leitura) partem de duas possibilidades de abordagem, uma em busca do ser histórico, outra acerca do ser religioso, dotado de grandes poderes e cujos registros encontram-se na Bíblia, sendo que para compreensão da segunda abordagem ter-se-á que partir da crença em seus milagres e passagens cuja razão nos afasta da materialidade concreta, de modo que isso será relevante no processo de escrita, mas também no recebimento da leitura, que aliás, com os informes dados pelo autor em seu posfácio, indicam e confirmam algumas desconfianças do leitor;
3 - Inicialmente temos a sensação de estarmos diante de uma proposta que de fato conseguirá penetrar pelos meandros secretos da vida de Jesus, como de fato aguardamos de uma reportagem, enfim algo que jogue luzes por sobre tudo aquilo que ainda está envolto por sombras, como parece ser a proposta de Pimentel;
4 - Por isso mesmo, em boa parte de seu texto estaremos diante de perguntas incômodas, convites feitos a racionalidade sobre os "milagres" e acontecimentos creditados a Jesus e todas as dúvidas surgidas quanto a sua trajetória, narrada em grande parte sobre momentos que englobam uma pequena parte de sua vida e cujas fontes são tão somente os evangelhos (inclusive os apócrifos), sendo que nesse sentido, Pimentel conseguirá ampliar suas dúvidas, em parte por sua própria concepção religiosa;
5 - Entretanto, o autor, no que tange ao ser histórico, Jesus, sofre como grande parte dos historiadores que ainda procuram por maiores informações e registros de sua passagem pela terra, de modo que as informações são parcas e na maior parte da obra refletindo e reproduzindo outras bibliografias de pesquisas sobre Jesus, e que até então não tem-se chegado a uma produção definitiva ao ponto de responder a uma grande quantidade de perguntas sobre Jesus, especialmente aquelas que poderiam refutar de forma mais veemente os que optem partir da crença absoluta, que a despeito de qualquer indicação contraria a razão, e creiam que ele de fato tenha ressuscitado mortos, transformado água em vinho, etc...
6 - Nesse sentido, perante uma bibliografia reduzida acerca do sujeito histórico, o livro, então, especialmente a partir de sua segunda metade ficará totalmente "refém" do sujeito simbolo-religioso, espiritual, ancorando-se naquilo que se há de registros, ou seja os evangelhos, estando na Bíblia ou não, o que de certo modo restringe e dificulta a leitura de quem não parta da crença do feitos imputados a Jesus;
7 - Por causa disso, obviamente há certo prejuízo na observação da escrita como "uma reportagem", especialmente porque o ser espiritual vai a cada capítulo eclipsando o sujeito histórico, este sim, possível objeto de uma reportagem, enquanto o ser espiritual encontra-se noutro campo, e então a argumentação e racionalização do debate acaba impactada pela necessidade de levar-se em conta a crença nos feitos, como o próprio autor comenta. Logicamente, não se pretende aqui dizer se isso é bom ou não, entretanto, em nossa leitura devemos ter isso em consideração, especialmente quando do caso de quem procura a obra em busca de maiores informações acerca do Jesus histórico;
8 - Em relação a isso, embora algumas informações adicionais (mas não desconhecidas de todos), a tentativa de Pimentel esbarra na escassez de informações exclusivas ou novas, de modo que o sujeito histórico permanece produzindo muito mais perguntas do que irradiando alguma luz ou sugestão de conclusões, levando então a certa repetição de perguntas que nos fazemos a todo instante, e indiretamente reforçando o mito do sujeito espiritual;
9 - Além disso, diante de tal apresentação, aos poucos vamos nos dando conta de uma argumentação permeada por conflitos internos que, aliás, reproduzem bem a situação daquele que crê, colocado diante da razão e do imponderável, e assim, ao sujeito espiritual eclipsar o histórico na reportagem, repetimos os tantos embates entre fé e razão, algo que para ambos os lados acarreta prejuízos, visto que o sujeito que parte da premissa de considerar como fato os atos e eventos do evangelho, quando posto diante dos dilemas da razão, produzirá perguntas ainda sem respostas como meio de fortalecer seus argumentos, o que, a seu modo ocorre também na outra parte. Tais dilemas estão presentes na obra de Pimentel, e dão ao livro mais essa natureza de embate entre fé e razão que propriamente uma reportagem;
10 - Enfim, o livro possui seus interesses e suas virtudes, de modo que é uma boa porta de entrada ao debate, mas que, entretanto, será fortemente impactado pela escolha inicial do leitor sobre por qual perspectiva buscará encontrar seu Cristo, sendo que ao fim, especialmente para aqueles que procuram saber mais sobre o sujeito histórico, verá-se ainda enredado por tantas perguntas, segredos e mistérios que não levam a elucidações conclusivas, e isto, é algo, diga-se, muito importante para quem defenda a outra perspectiva.
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