10 Considerações sobre O Assassino do Zodíaco, de Sam Wilson, ou corra porque a polícia vem aí

O Blog Listas Literária leu O Assassino do Zodíaco, de Sam Wilson publicado pela editora Jangada; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira: 

1 - Sam Wilson numa narrativa cuja superfície pode parecer simples, tocada pela ação e a violência numa distópica ficção científica estruturada em romance policial, produz camadas distintas de profundidade, que em seu auge refletirá e tomará posição acerca das diferenças sociais e da violência do poder para perpetrar a imobilidade social, impondo a cada um, seus respectivos lugares dentro da sociedade, no caso do livro, a partir dos signos do zodíaco;

2 - Com isso, qualquer leitura que despreze o alto poder alegórico deste romance certamente será deficiente, pois nesse trabalho, mais importante de o quê acontece, é tudo o que envolve tais acontecimentos, pois será no universo construído por esta obra que encontraremos a crítica social deste livro;

3 - Estruturado pelo gênero policial, claramente demarcado pela existência de crimes a serem resolvidos e de detetives, no caso de Burton, um detetive bem próximo de seus similares do noir, a obra é invadida pela ficção científica ao produzir uma realidade paralela em que a sociedade está distribuída por seus signos, que funcionam como castas sociais e organiza a cidade de San Celeste a partir de um conjunto de desigualdades;

4 - Todavia, a divisão social por signos cria uma imensa alegoria à nossa própria realidade, pois independente dos signos, o que nos salta aos olhos é uma metrópole distópica, erguida sob imensas desigualdades sociais em que o signo de seu nascimento perpetuará uma imobilidade social a fustigar os miseráveis arianos e manter, por exemplo, os privilégios da elite capricorniana;

5 - Não deixa de ser uma obra anticapitalista, engajada de fato em desmascarar as hipocrisias e a violência humana perpetrada por um sistema tão injusto. Com isso, o que pretendo dizer é que Wilson ao dividir em sua ficção a sociedade em signos, o faz a partir do espelho que sustenta a alegoria: nossa própria realidade. Entre uma minoria privilegiada da elite e uma enorme massa de miseráveis, os signos medianos elevam um muro de proteção aos mais fortes, enquanto os outros relegados à pária, são levados a agir sempre da mesma forma, de modo que é inevitável a construção de relações entre literatura e sociedade;

6 - Então, no interior desta grande alegoria, é que se desenvolve a trama a partir de uma série de assassinatos ligados aos signos, que no avançar da narrativa, além de dar o tom de romance policial, serve também para por em debate o papel da própria polícia na perpetuação de tais estruturas sociais, de modo que, mesmo o leitor atraído apenas pelo entretenimento, não deixará de perceber as questões envolvidas no livro;

7 - Além disso, em termos de interesse literário, a obra do mesmo modo é rica em recursos, não ficando refém apenas da estrutura policial, e ainda pode surpreender o leitor com a distinção de tempos, bem como o encontro de diferentes linhas narrativas que correm paralelas até o encontro e desfecho final que nos revela uma imagem de grande impacto visual com grandes distúrbios e o extrapolar da violência;

8 - Do mesmo modo, as personagens assim como o romance, são dotadas de boa complexidade, e para a discussão crítica se o sucumbir de algumas delas ao que lhes é posto surge como uma fragilidade marcada por ideais deterministas, ou então, se pelo contrário, trata-se de um reforço da crítica do autor para com aquilo que deseja abordar;

9 - Dito tudo isso, temos portanto uma obra que amplia os limites de determinados gêneros, unindo alguns, inclusive, de modo que esta é uma publicação não só de grande potencial, com grandes possibilidades críticas, pois sem dúvida alguma é uma leitura relevante, que apesar do autor considerar nele "a distopia um pouco mais sutil", ao processo da leitura, as intenções políticas e críticas se tornam incapazes de fugir da percepção dos leitores;

10 - Enfim, O Assassino do Zodíaco com seu hibridismo entre narrativa policial e distópica tem a qualidade que poucas obras reúnem: a capacidade de ao mesmo tempo ter apelo popular, e apelo crítico, pois embora possa parecer um romance policial - e o é -, o universo distópico em que tudo ocorre ganha grande força de crítica social, que dificilmente escapará de seus leitores. Uma obra muito interessante e a ser lida e comparada com nossas próprias realidades.




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