O Blog Listas Literárias leu O Cambista do Cais do Porto, de J. C de Toledo Húngaro publicado pela Kwabb-Fortec; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - O Cambista do Cais do Porto é uma leitura agregadora e que na prosa consistente e segura de J. C. de Toledo Hungaro perpassa por um período recente da história do Brasil e do Mundo e versa sobre algo que é especialidade do autor, contar histórias do sistema financeiro;
2 - Neste romance o autor narra a saga de Jacobo Marttuz, um imigrante vítima e sobrevivente da Segunda Guerra cujo destino era i Uruguai, mas que acaba ficando pelo caminho, apaixonado pelo Rio de Janeiro e pelo cais do porto, local onde com simplicidade e astúcia o protagonista faz fama e fortuna;
3 - Deste modo é também uma história de empreendedorismo e perseverança construída por um personagem que após vivenciar os grandes dramas da vida que é uma guerra, foi capaz de lidar com as adversidades e vencer sua jornada. Logicamente, ainda que abramos espaço para discussão é então uma história de valores míticos daquelas que evocam os sonhos construídos do nada a partir apenas do trabalho, dedicação e lealdade numa espécie de "sonho brasileiro" ou "sonhos da nova terra" em que aquele que nada tinha ao não desistir "vence" fazendo sua fortuna a partir do trabalho;
4 - Isso, todavia, pode até ser um tanto discutível e ingênuo, especialmente por praticamente santificar o protagonista infalível capaz de enfrentar tudo que é problema com bom humor e honestidade inviolável num sistema para lá de questionável que é o financeiro e o cambismo. Entretanto, este é um ponto de vista, e como tal não tem problemas observarmos desta forma deste que ponderemos criticamente os passos do "Seu Marttuz";
5 - Aliás, a construção do protagonista é bastante interessante e faz dele um destes personagens que nos parecem reais tal é a aproximação simpatia do leitor a ele, em parte justamente pela confessa natureza mítica dada ao narrador a seu protagonista;
6 - Contudo, a despeito dos interessantes personagens é certamente o pano de fundo histórico a dar grande alma e vida ao romance tornando-o deveras interessante e produzindo um olhar sobre o Estado e os Governos de alguém que os entende em seus defeitos e que assume viver e jogar o jogo com as regras que estão postas e com o distanciamento possível dos políticos, para com quem há certo ceticismo e desprezo;
7 - Assim, percorrendo o período do fim do Estado Novo aos anos recentes, através dos conflitos e conturbações no cais do porto do Rio de Janeiro a obra lança um olhar sobre o tumultuado processo político brasileiro e sua estável instabilidade com suas ditaduras e lapsos democráticos que influenciam e impactam os negócios do protagonistas de acordo com o movimento da caneta de quem esteja no poder;
8 - Além disso, o romance ainda faz um jogo comparativo do ontem e do hoje, especialmente com o amadorismo do passado representado pelas cadernetas do "Seu Marttuz" aos computadores do presente, tudo isso surgido com o avanço do tempo que vai sendo contado através da história da casa de câmbio Marttuz & Fucks. Do mesmo modo, não só referente à tecnologia a história encarrega-se de mudar, mas também poderemos ver a ação do tempo sobre as próprias gerações, sobre o mercado financeiro, setor ainda mais instável que a política brasileira; então das primeiras e caríssimas linhas telefônicas e seu mercado de ações aos primeiros celulares, o autor nos conduz a uma ótima viagem no tempo;
9 - Contudo, e aqui isentando-se o autor, vale comentar que alguns problemas de edição em determinados momentos podem irritar porque questões gráficas e tipográficas repetem falhas constantemente que não atrapalha a leitura, mas ainda assim são um incômodo;
10 - Enfim, O Cambista do Cais do Porto é leitura qualificada e vale sua leitura. Com seu excelente domínio da narrativa, J. C. de Toledo Hungaro nos entrega uma história interessante com personagens carismáticos e acessíveis ao mesmo tempo que seu fundo histórico e suas nuances podem abrir interessantes discussões críticas.