10 Considerações sobre A Espiã, de Paulo Coelho ou como Mata Hari seduziu o mundo

O Blog Listas Literárias leu A Espiã, de Paulo Coelho publicado pela editora Paralela; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - A Espiã é um romance de difícil classificação. Com pretensões de ser romance histórico já que o autor afirma "(...) todos os fatos deste livro tenham acontecido" a narrativa é reconstruída por meio de supostas cartas escritas por Mata Hari, figura emblemática e misteriosa da Primeira Guerra Mundial, que no cárcere por meio de Paulo Freire rememora suas experiências;

2 - Todavia é o próprio Paulo Coelho que também afirma a ficção da obra ao reforçar "este livro não tem a menor intenção de ser uma biografia de Margaretha Zelle", o que o liberta justamente para fundir sua própria voz de autor à voz da figura histórica de Mata Hari;

3 - Deste modo, de maneira alguma o romance se arrisca afirmar algo ou a mudar alguma informação a respeito da bailarina que foi acusada de espionagem após envolver-se com homens figurões da sociedade europeia enquanto vivia num universo de luxo e poder cujas portas foram abertas pela sensualidade e pelo exotismo desta personagem histórica bastante peculiar;

4 - A manutenção dos mistérios e as poucas revelações das cartas ficcionais que aliás, são de conhecimento público, não deixa de ser uma curiosidade do livro visto que poderia o leitor imaginar que dentre as "cartas ficcionais" que compõe A Espiã se pudesse ter uma compreensão maior dos segredos da bailarina;

5 - Entretanto não se pode negar que ao final, inclusive com o mea culpa de Dr. Clunet há na obra uma tendência de buscar inocentar Mata Hari quanto às acusações que levaram-na à morte numa proposta muito clara de demonstrar que os verdadeiros crimes da bailarina seriam sua condição de mulher;

6 - Dito isto, a obra não nos proporciona muitas outras reflexões, especialmente porque ainda que seja a publicação num gênero um pouco distinto das demais obras de Paulo Coelho, o que chama-nos a atenção é que justamente embora um gênero não muito trabalhado pelo autor, seu romance histórico é tipicamente uma obra de Paulo Coelho, o que para alguns soará como crítica, para outros, como elogio;

7 - Porém, o problema aqui é que o autor Paulo Coelho se revela presente justamente onde deveria manter-se como um demiurgo, nunca um ventríloquo. Vejamos que em sua nota ele diz "fui obrigado a construir alguns diálogos, fundir certas cenas..." Pois bem, acontece que são justamente nos diálogos em que o livro se afirma como uma escrita paulocoelhana com personagens que não se furtam de falar palavras de autoajuda carregadas de reflexões existenciais;

8 - Se no conjunto de obras do autor tais características dividem muitos leitores, especialmente os mais crítico, nesta que se compõe por figuras históricas em ambientes e acontecimentos reais esses diálogos tem como efeito o de justamente banhar toda a narrativa de uma inverossimilhança incrível distanciando a Mata Hari de Coelho da ata Hari histórica;

9 - Além disso, a partir de tais elementos o texto não se aprofunda na trama deixando uma percepção de superficialidade em que as personagens históricas estão a serviço das crenças do autor que são jogadas ao vento a partir dos diálogos geralmente improváveis;

10 - Enfim, os fãs de Paulo Coelho certamente poderão gostar do romance pois a obra carrega as principais características do autor, contudo em termos estéticos e técnicos o romance sofre com falhas que tornam-se mais evidente ao banhar a face histórica com as doses de autoajuda.



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