10 Considerações sobre Nunca O Nome do Menino, de Estevão Azevedo ou como a ficção se torna real

O Blog Listas Literárias leu Nunca O Nome do Menino, de Estevão Azevedo publicado pela editora Record; Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Nunca O Nome do Menino é um romance virtuoso e com diversas portas que abrem diferentes caminhos interpretativos para sua narrativa marcada pelo lirismo, pela erudição, mas acima de tudo um pacto firmado com a estética que a torna saborosa de se ler e nos atrai por causa de seus amplos recursos que afirmam a existência de espaço para grande autores na literatura brasileira;

2 - Ainda que a Record o coloque como primeira edição, o romance relançado agora apresenta-se de forma revista pelo autor que confessa em seu posfácio ter operado pequenas e pontuais alterações em seu texto original publicado oito anos atrás sendo que nesse posfácio a despeito dos riscos assumidos pelo autor falar de sua obra, há um olhar bastante seguro sobre a própria obra, especialmente quando Estevão fala do aspecto de metaliteratura presente no romance;

3 - É que temos aqui uma obra composta em diversas camadas, mas que leitor algum poderá desconsiderar a confissão inicial de sua narradora que declara-se desde as primeiras linhas ser uma personagem, a partir disso abrindo uma série da estética literária que marcarão as páginas do livro numa obra que discutirá de forma muito interessante a própria literatura que de alguma forma acaba sendo a semente das discussões presentes no livro;

4 - Nesse aspecto metaliterário veremos em pauta uma série de discussões presentes nos estudos literários que buscarão refletir sobre o feitio da literatura e mesmo seus elementos indispensáveis, dos personagens ao próprio autor, sendo que considero seu desfecho final uma brilhante solução de como posicionar-se, por exemplo, sobre questões como a proposta por Roland Barthes em seu artigo "A Morte do Autor" ao que o inconcluso desfecho de Estevão abre uma janela de reflexões sobre criador e criatura;

5 - Mas se por um lado observamos na obra tais questões metaliterárias, ao leitor que desconheça essa abordagem altamente influenciada pelos estudos literários poderá ler a obra sem prejuízo algum pois a narrativa memorial de um romance em suspenso é capaz de prender e atrair a atenção de todos os tipos de leitores sem que se haja uma sensação enfadonha de debates academicistas;

6 - Por isso a prosa lírica, em alguns momentos muito próxima da poesia, é elemento fundamental de tal modo que é como se o leitor fosse convidado a um baile, cujo ritmo aqui não é proposto pela música, mas sim pelas palavras através de um uso de pleno domínio da sintaxe e dos estilos;

7 - Além disso, não se poderá deixar de lado as percepções presentes na camada textual mais simples em que agem as personagens do livro, inclusive de tal modo que passamos a esquecer a confissão ficcional do início. Em suas ações as personagens desfilam por dois tempos distintos, uma passado marcado pelo ardor das primeiras paixões, as primeiras descobertas, e um futuro amplamente marcado por tais lembranças com uma protagonista talvez incapaz de superar as lembranças além de ter de lidar com o fato da descoberta cruel se reconhecer possuir uma vida escrita por outros;

8 - De alguma forma aqui poderíamos abrir mais uma das possibilidades interpretativas, visto que poderíamos ter talvez uma grande metáfora da busca pelas rédeas de nossas vidas, o desatar de laços que parecem conduzir-nos transformando a todos em títeres manipulado por uma autor. Todavia não escapará a personagem-protagonista-narrador o sucumbir aos medos e aos fracassos visto que a aparente tentativa de mascarar-se as identidades pode até proteger os nomes, entretanto as almas estão todas desnudas no livro;

9 - Somado a todas as virtudes já mencionadas, o livro ainda nos revela uma riqueza de influências artísticas e literárias que permeiam o texto dando-lhe uma carga inteligente e contundente trazendo referências a uma série de leituras nacionais e estrangeiras que fazem da narrativa uma estrutura firme e coesa cujas bases de fundação são sólidas e eruditas;

10 - Enfim, Nunca O Nome do Menino é uma obra de intenso brilho que nos deleita durante sua leitura de uma forma consistente e envolvente que reforçam a possibilidade de uma literatura qualificada ao mesmo tempo sedutora ao conseguir estimular as percepções sensoriais de seus leitores sem ter de abandonar a seriedade e a complexidade cara aos ótimos romances de nossa literatura. Uma leitura de muitas possibilidades que merece conquistar leitores e críticos, certamente.



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