O Blog Listas Literárias leu Sra. Poe, de Lynn Cullen publicado pela editora Bertrand Brasil; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Sra. Poe ainda que comprometendo-se a narrar sobre personagens reais de alto poder de atração dos leitores, ao final da leitura pouco surpreende-nos sendo menos uma obra sobre Edgar Allan Poe e mais um romance sem grandes pretensões além de seus personagens históricos graças a alguns deslizes e um Poe distante do imaginário literário;
2 - No livro a autora se propõe a revisitar e imaginar o escandaloso romance entre Edgar Allan Poe e a também escritora Frances Osgood e com isso, além de tratar do caso amoroso entre os dois, penetrar pelo universo de Poe, considerado uma dos maiores escritores de todos os tempos;
3 - Para tanto, Cullen cria sua ficção dando voz a uma imaginária Frances Osgood que nos narra em primeira pessoa seu envolvimento com Poe num recorte temporal entre os anos de 1845 e 1847, uma voz que colabora para a distância criada entre personagem e leitor, pois suas frases reticentes, suas ações contraditórias e talvez um olhar muito superficial sobre seu amante, Poe travestem o livro de certa inverossimilhança;
4 - Além disso, embora não conheça o texto original de Cullen, ao menos a tradução da obra aqui no Brasil produz uma série de ruídos linguísticos que impossibilitam ao leitor ver-se (ou ler-se) em pleno Século XIX por causa de seus diálogos frágeis e inverossímeis para época em que se passa o romance. Um exemplo do que digo neste sentido é de que a tradução abusa no uso do "a gente" como pronome durante os diálogos dos personagens, uma escolha que impossibilita a verossimilhança de uma obra por impossibilitar tal caracterização de época;
5 - Do mesmo modo, temos aqui uma versão idealizada de Edgar Allan Poe aos olhos de uma Frances Osgood pouco convincente. Ainda que tenhamos as falas e os comentários de outros personagens acerca dos dramas do autor, a superficialidade da narradora nos apresenta uma versão confusa e pouco confiável do autor de "O Corvo";
6 - Todavia, ainda que o livro nos apresente tais questões que não passam despercebidas pelos leitores mais exigentes, o que presumo ser o caso da maioria dos interessados por esta obra, reside na ambientação do livro uma de suas principais virtudes que é a ambientação que nos faz percorrer diversos encontros do círculo dos literatos de Nova Iorque;
7 - Portanto, é preciso ter-se em mente que o leitor desta obra não embrenhara-se por segredos ou novos olhares sobre o grande escritor que ainda hoje é tema de diversos estudos de sua biografia e obra. Teremos aqui, sim uma obra na qual Edgar Allan Poe é personagem, mas não passa tão somente disto porque ainda que a autora busque trazer elementos da realidade da vida de Poe, no conjunto a ficção sobressai-se muito além da tentativa de revistar o triângulo amoroso e imaginá-lo sob um dos olhares de seus integrantes;
8 - Aliás, o romance de Lynn Cullen pouco tem a ver com a produção literária de Poe, mesmo que tente construir um sutil suspense ao final de sua narrativa. Na verdade, a obra parece estar muito mais para aquelas obras românticas cheias de idealizações, reticências e pequenos dramas, mas nada além disso;
9 - Ainda assim não podemos deixar de dizer que a obra poderá reunir elementos interessantes para curiosos sobre a obra e a vida de Poe. Mesmo que possamos perceber claramente as invenções poéticas e literárias criadas pela autora na narrativa, em boa parte ela confessa ter tentado seguir fiel aos relatos históricos, o que de certo modo pode ser uma porta de entrada para iniciantes curiosos pela biografia de Poe;
10 - Enfim, Sra. Poe não fosse seus personagens reais e instigantes dando vida a uma ficção cairia numa faixa de obras com muito trabalhos semelhantes e sem grandes pretensões. Com uma narradora cheia de fragilidades nos narra não mais que uma história de amor que além de tudo, através de suas frases inverossímeis e idealizadas criam um Poe destituídos de suas verdadeiras complexidades, o que para especialmente os fãs e estudiosos do autor pode não convencer. Por isso, é uma obra para curiosos e para quem aceita a obra como um romance apenas, e não como um olhar sobre Poe.
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