O Blog Listas literárias leu O Filho da Feiticeira, de Kelly Barnhill publicado pela editora Galera Júnior; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - O Filho da Feiticeira é um livro encantador cuja magia e encanto vertem de suas páginas com metáforas que refletem sobre a vida, mas também a morte, o trauma e a necessidade de despedir-se. Tudo isso numa jornada em que a abnegação ao poder e ao jeito fácil de resolver os problemas será abolido pelos protagonistas que encampam os valores históricos do herói;
2 - Para contar esta história embebida em muita magia, Kelly Barnhill nos apresenta a Ned e Áine, duas crianças de vidas que interligam-se reconstruindo uma longa jornada histórica carregada de elementos mágicos e tradições que nortearão parte de suas jornadas, contudo, toda esta fantasia está presente como estruturação de um debate e reflexões sobre temas espinhosos e valores de caráter;
3 - E talvez um dos elementos centrais destas reflexões esteja a própria morte, e aqui notamos certa audácia da autora, pois sua obra discute um tema distante do publico a que se dirige o livro, contudo a morte não só está presente no romance, mas ocupa ele com toda a tensão, dramaticidade e pesar que lhes são característicos, ou seja, não observamos aqui uma fantasia ingênua e supérflua visto que em muitos momentos o livro torna-se uma verdadeira cacetada nos leitores;
4 - E isso e uma das grandes virtudes desse trabalho: O Filho da Feiticeira não é apenas uma romance de aventura para entreter os jovens leitores, e mesmo que o faça satisfatoriamente, a obra vai além, pois está construída numa série de camadas de ditos e não ditos que remetem às tradições antigas dos contos de fadas em que a literatura dialogava com os jovens sem "dourar" as cores sombrias e cinzentas do mundo;
5 - Aliás, a obra certamente devera agradar os leitores dos grandes e ótimos contos de fantasia. Seu enredo é muitíssimo bem elaborado, seus personagens são dotados de uma identidade própria mesmo habitando um espaço literário abordado há muito tempo, sem falar que as cenas fantásticas e os elementos mágicos presentes são dos melhores que poderíamos querer numa obra;
6 - Além disso, não é uma obra escrita apenas para crianças e adolescentes ou que apenas eles pudessem gostar. Este é um trabalho que certamente leva em conta alguns apontamentos de C. S. Lewis para o gênero, pois ao não eufemizar determinadas temáticas a obra realiza um balanço entre tensão, drama e encanto organizando a complexidade da obra e colaborando para um romance interessantíssimo que coloca Barnhill entre nomes como Gaiman e o próprio Lewis;
7 - Todavia não podemos deixar de perceber certo ufanismo presente na obra porque tanto Ned como Áine destoam dos heróis modernos carregados de dramas, mas acima de tudo dotados de certa fragilidade diante escolhas difíceis. No caso deste livro os dois protagonistas ainda que titubeiem (discretamente) diante suas escolhas difíceis, seus valores morais não sucumbem diante das tentações e das facilidades apresentadas, optando muitas vezes pelo caminho mais doloroso, o que os faz heróis incorruptíveis, fator que para a obra é essencial na solução mágica;
8 - Quanto à magia presente, toda a mitologia que lhe cria e tudo que a envolve é muito bem tecida no livro, além de deixar sempre claro de que esta magia sempre cobrará um preço, um fardo, justamente por isso ao que tal magia fica sob poder daquele que poderia ser o errado, nos coloca diante de que talvez não fosse este um vaticínio perfeito, já que Ned demonstrará ao longo de sua jornada não uma evolução, mas sim uma afirmação daquilo que sempre foi;
9 - Ainda no campo dos grande temas abordados pelo livro, aqui veremos a despedida e a separação surgirem (ou não) de forma dramática em cenas de embolar a garganta e mexer com as emoções do leitor tamanha complexidade (pelo bom sentido) e profundidade como as coisas são abordadas que ao fim desta jornada de aventura, assim como acontece com seus protagonistas, perceberemos que tal jornada não nos abandonará mais já que suas marcas ficarão junto aos leitores;
10 - Enfim, O Filho da Feiticeira é uma obra sensível, delicada e que toca em pontos importantes e caros para a reflexão de comportamentos e atitudes. Uma obra que acima de tudo levanta e retoma as bandeiras das virtudes e tudo isso numa fantástica aventura cuja magia e tensão dramática colocam-no entre os velhos e modernos clássicos da literatura infanto-juvenil desde a produção oral aos melhores romances dos dias de hoje.
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