10 Considerações sobre Na Estrada Jellicoe, de Melina Marchetta, ou como saber a verdade é libertador

O Blog Listas Literárias leu Na Estrada Jellicoe, de Melina Marchetta publicado pela editora Seguinte; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Na Estrada Jellicoe é uma obra carregada de sutilezas e nuances que permeiam sua narrativa de uma forte sensibilidade convidando os leitores para uma passeio entre o real e o fantásticos cujas fronteiras são muito tênues, e que no livro surgem para que o leitor reflita no que é capaz de acreditar;

2 - Na trama, passado e presente se interconectam num cenário específico, a estrada Jellicoe, Austrália, especialmente num trecho outrora cenário de um gravíssimo acidente que acabará interligando vidas e destinos, cujas marcas serão carregadas para além de uma geração, destruída especialmente pelo fato de sobreviver;

3 - Então, a partir da narrativa marcada pela rebeldia e pela incompreensão de Taylor Markham vamos observando um grupo de jovens em busca da quebra do tédio através da atividade característica da "guerra" entre citadinos, cadetes e casas, que há tempos ocorre na cidade, e que perceberemos com o andamento da história que está ligada ao passado misterioso de Taylor;

4 - No entanto, justamente nesta questão o livro peca em parte por sua previsibilidade, pois o leitor a partir da metade da obra já é capaz de criar as relações, e mais do que isso, já saber o que estará vindo pela frente, o que em certo sentido acaba sem nos surpreender em determinados momentos;

5 - Contudo, afora esta questão da previsibilidade, a obra traz uma série de reflexões que nem sempre estão presentes em jovens da idade de Taylor e seus amigos e amigas: a morte. A morte de jovens acaba sendo uma das pautas principais da obra, especialmente ao passo que seus personagens manifestam-se incrédulos diante das vidas ceifadas tão precocemente ao mesmo tempo que retratam os laços indissolúveis de uma amizade tão forte cuja ausência marcará muitos deles;

6 - Além disso, em algum momento é a própria Taylor que coloca em discussão a veracidade narrativa ao reconhecer por intermédio da escrita de Hannah a suspeição dos narradores ao falar que quem narra é que escolhe o que por sob perspectiva, realçando ou obscurecendo determinados "personagens", o que nos leva a perguntar quem mais poderia ter mais destaque na narrativa de Taylor? Ou quem ficou intencionalmente escondido?

7 -   De toda forma, o livro é recheado de insinuações que convidam aos leitores completar seus sentidos. Muita coisa, ainda que corroborada pela narração, acaba criando muito mais forma na mente do leitor que necessita construir seus próprios significados sobre a obra;

8 - Agora, há um detalhe que me chamou atenção na obra e que não está diretamente relacionado à narrativa, mas que apresenta um estranho retrato deste novo mundo globalizado e padronizado. Ao leitor mais atento, chamará atenção ao fato de que, embora ambientado na Austrália, é como se tivéssemos lendo uma obra tipicamente americana, especialmente pelo fato de que todas as referências "culturais" e artísticas presentes no romance evocam nomes e personalidades americanas;

9 - Antes de encerrar, creio que vale a pena falar dessa sutileza entre o real e o fantástico, pois a narrativa de Taylor é marcada por "sonhos" e visões que demandarão uma boa dose de crença e espiritualidade, ainda mais que há, ainda que não explícita uma inter relação de tais acontecimentos com a iluminação de Taylor no que tange compreender sua própria história;

10 - Enfim, Na Estrada Jellicoe é uma obra que fala da necessidade de conhecermos nosso passado para enfim nos encontrarmos no presente, fala de relações conflitantes e traumáticas carregando narrativa de uma dramaticidade delicada que certamente convidará seus leitores a pensar, bem como permanecerá conosco mesmo após a leitura do romance.



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