10 Considerações sobre O Grande Assaltante, de Alice Dias ou por que não subir na moto

O Blog Listas Literárias leu O Grande Assaltante, de Alice Dias publicado pela Chiado editora; nesse post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - O Grande Assaltante é uma obra no mínimo curiosa, com uma ambientação a ser observada e uma narrativa mesmo que inexperiente consegue manter uma estrutura característica do texto da autora, sendo assim uma publicação a ser conhecida de compreendida por leitores que se aventuram a conhecer novos autores nacionais;

2 - Na trama de Alice Dias, numa cidade pequena um assaltante (que na verdade poderia ser O Grande Sequestrador, ou O Grande Assassino) gera mistério diante o início de uma onda de desaparecimentos, colocando o protagonismo, tanto da parte romântica, quanto da ação, uma jovem prefeita, um delegado, um inspetor, e, claro, o Grande Assaltante;

3 - É justamente nesse detalhe da ambientação que o trabalho da autora me chamou mais a atenção, especialmente porque sua obra é capaz de produzir o estranhamento necessário a recobrir o texto de literariedade, contudo ao fim resta uma dúvida até qual ponto as escolhas são intencionais;

4 - Quando falo da ambientação é que a obra, a princípio poderia ocorrer num ambiente realista, entretanto há no livro uma atmosfera onírica que de certa forma dá ares do fantástico ao texto, especialmente porque o local em que se passa a narrativa é com se fosse uma espécie de dimensão paralela o mundo efetivamente real, sensação talvez provocada pela contemporaneidade na qual transcorre contrastando com um clima meio época vitoriana;

5 - Há muitos elementos para que se produza tal sensação de deslocamento temporal, como o fato de que embora as personagens ocupem funções (profissões) conhecidas, como as já citadas por aqui, suas atuações na obra ultrapassam a caricatura e se constituem como composição única, pois seja a prefeita ou seus "policiais" a ação destes é um tanto distante duma observação minimamente realista, e mais próxima da ambientação surreal;

6 - Essa percepção sensorial só aumenta com o bucolismo da paisagem e certa ingenuidade presente na obra de uma forma muito espontânea e natural, que cria um espaço onírico tipo um filme em que os cenários ocupam um espaço forte na constituição dos personagens permitindo essa máscara que afugenta a realidade, como se se criasse um cenário experimental, com efeitos e desfeitos;

7 - Todavia, esse foi um detalhe interessante observado, porém, também é preciso abordar uma série de questões que não comprometem a obra num todo, mas que não passam despercebidas dos leitores, como as pequenas e grandes incongruências presentes no texto, que inclusive, escaparam da revisão como as que envolvem o Inspetor, que, por exemplo, num dado momento chega eventualmente à cidade, noutro é praticamente um superior da prefeita, até mesmo contratando funcionárias para prefeitura;

8 - Aliás, a prefeita Amanda é um bom exemplo de personagem que talvez demandasse um aparar aqui, outro ali, pois ela foge muito do que podemos imaginar de alguém em sua posição, além de que, somado a isso, o ineficiente Delegado também possuiu lá seus problemas;

9 - Talvez tais detalhes surjam justamente pelo principal problema da obra que é o foco narrativo do romance, pois a obra dá de ter se ido construindo ao ritmo dos dedos contra o teclado já que percebemos constantes mudanças do foco narrativo, ainda que numa observação global este estaria centrado no romance específico da trama;

10 - Enfim, O Grande Assaltante reúne virtudes e questões pontuais que não o desmerece mas que devem ser observados. Na verdade vejo a obra com boas possibilidades desde que um bom trabalho de edição em que se auxilie a lapidação deste trabalho, que acima de tudo, consegue criar uma impressão única em seus leitores.

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