10 Considerações sobre Antônio: O Primeiro Dia da Morte de um Homem, ou porque o homem é inviável

Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro Antônio: O Primeiro Dia da Morte de um Homem, de Domingos Oliveira publicado pela editora Record, confira:

1 - Antônio: O Primeiro Dia da Morte de Um Homem é deveras interessantes, seja pela prosa aparentemente descomplicada, seja pelas experimentações estruturais que não deixam de chamar a atenção neste trabalho, e mais do que simples curiosidade, merece olhar mais detalhado sobre elas;

2 - Isso porque Domingos Oliveira bagunça algumas questões pré-estabelecidas em relação às estruturas narrativas, a começar pelo mesclamento de vozes que se intercalam e se misturam de forma fluída. Não podemos dizer aqui que é algo em primeira ou terceira pessoa porque tais definições se esmaecem com a narração de Antônio. Além disso, outras vozes ao longo da narrativa assumirão o controle em determinados momentos, e tais fatos não passam despercebidos dos leitores;

3 - Da mesma forma, podemos perceber a intenção de confundir tais limites, inclusive quanto a autoria de um romance, como podemos observar neste trecho "Este texto, que talvez esteja sendo escrito por Antônio, talvez pelo autor de Antônio, demanda explicação";

4 - Além disso, a narração do livro busca manter uma forte intimidade com o leitor, comunicando-se com este constantemente, bem como colocando-o sempre como expectador privilegiado do que acontece com Antônio e os demais protagonistas da obra, de tal forma que nos mantém interessados na leitura;

5 - Contudo, as questões técnicas do  livro não são os únicos elementos interessantes da obra, marcada por acontecimentos inusitados, mas que acima de tudo buscam discutir a plenitude da vida num cenário em que o homem e a mulher aos sessenta anos vivem intensamente. No fundo, é disso que se trata a história de Antônio, uma resistência contra o tempo e contra a velhice;

6 - Essa resistência se torna aparenta a partir dos questionamentos de Antônio quando da morte recente de um amigo, Eduardo. O episódio serve como propulsor de uma série de questionamentos a respeito da vida e da morte, estes bastantes pertinentes, especialmente no contexto dos dias atuais;

7 - Com isso, o tema a ser debatido tinha tudo para tornar a atmosfera sombria e amarga, no entanto, o amargo esta nas reflexões, enquanto as ações estabelecem uma contraparte revelando a vida intensa e dinâmica do sexagenário Antônio;

8 - Todavia, aí surge um ponto importante de reflexão, pois temos uma estrutura que brinca com diversas técnicas narrativas e torna elástica qualquer convicção, que de tal forma é quase impossível imputar qualquer confiabilidade ao que está escrito. Aí soma-se que as vivências das personagens muitas vezes pendem ao campo do improvável deixando-nos em dúvida permanente sobre o que escolher como certezas nesse romance;

9 - No entanto, o que realmente importa é que o leitor poderá encontrar o que desejar nesta publicação. Quem optar tão somente por diversão, a terá, da mesma forma que aquele que quiser extrapolar para além de suas primeiras camadas, terá elementos suficientes para uma boa dose de estudos;

10 - Enfim, Antônio: O Primeiro Dia da Morte de Um Homem é literatura de qualidade e que nos apresenta questões necessárias de discussão. Uma obra marcada por uma prosa inteligente e cheia de primores que acima de tudo cumpre com o papel da boa literatura.



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