10 Considerações sobre A Menina da Neve, de Eowyn Ivey ou porque a neve traz esperança

O Blog Listas Literárias leu A Menina da Neve, de Eowyn Ivey publicado pela editora Novo Conceito; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o Livro, confira:

1 – A Menina da Neve é um romance tocante que de uma forma realista consegue produzir um belo conto de fadas com sua história emocionante, e, acima de tudo, deixando o leitor sempre no limiar entre a fantasia e a realidade;

2 – Ambientado no Alasca, uma terra inóspita e gelada a ser desbravada, o leitor acompanha a vida de Jack e Mabel que se refugiam neste isolamento como forma de fugir de um trauma caro ao casal. Neste lugar, a presença inesperada de uma misteriosa menina fará com que os dois retomem a própria vida, envoltos por uma aura misteriosa que os colocará entre o etéreo e o material, que no entanto, terá o leitor a revelação, ainda que mesmo que com toda a explicação, a fantasia que envolve a menina Faina não se desfaz por completo;

3 – Com isso, embora o projeto gráfico insinue mais um romance comum que envereda pera “o mais do mesmo”, este ao contrário, revela qualidades suficientes para que seja observado com mais atenção. Seu caráter diferenciado, aliás, tem uma pista através da informação de que foi finalista do Prêmio Pulitzer, o que para um romance de estreia não é pouca coisa. Portanto, é um livro deveras interessante, e com algumas observações que não podem deixar de ser faladas;

4 – A primeira das observações é quanto a constituição de seus personagens. Todos com vozes bastante próprias e personalidades tão distintas que os fazem únicos. Da selvagem e indomada Faina (esta até merece uma ressalva quanto sua assimilação de determinadas questões) ao fraco e de pouca autoridade, Jack, um homem cheio de medos, abstenções e fugas. Contrapondo a Jack, Mabel, que embora impactada pelo trauma de um aborto (natimorto) e um tanto debilitada, no momento em que se passa a narrativa, consegue subverter seus problemas e quando exigida, mostra-se valente o suficiente para enfrentar seus problemas;

5 – E tudo isso numa narrativa cujo ambiente salta das páginas do livro, num local gelado e agressivo, tão indomado quanto a menina de suas florestas. Para Mabel, Jack e os leitores, o Alasca é um ambiente a ser superado entre nevascas e frustrações, algo possível quando os dois se permitem fazer ao contrário do que pretendiam, que é o de manter distância de relacionamentos sociais, já que a amizade feita com os Benson é fundamental para vencer num lugar em que a grande inimiga é a própria natureza;

6 – Mas é a relação entre o casal e a misteriosa menina da neve que movimenta toda narrativa e aproxima o romance dos contos de fadas. Assumidamente com inspirações em contos populares russos, a autora consegue com muita habilidade manter por um longo tempo o leitor em suspenso quanto a natureza da narrativa, entre o onírico e o possível. Isso se dá principalmente porque os pontos de vista do casal nos levam, inclusive, a também observar a natureza etérea de Faina, e principalmente na primeira metade da narrativa, chegamos a perceber certo suspense que nos ameaça a levar a lugares mais sombrios;

7 – Mas ao final, é acima de tudo uma história de amor, companheirismo, e principalmente luta, luta por viver. No caso de Jack e Mabel, as visitas da menina da neve é uma fonte de luz que ilumina-os novamente e lhes dá força para enfrentar a nova realidade. Com isso a construção de laços fortes é tratada de forma madura e cativante;

8 – Além disso, o livro por causa de sua ambientação e personagens aproxima-se dos romances de aventura diante o desbravar de uma vida inteira que entre a presença onírica de Faina e a crueza da caça e da sobrevivência mantem o leitor sempre grudado à obra;

9 – Sem falar que o livro não cai na mesmice e nas soluções fáceis. É uma história de natureza triste, e ainda que com seus momentos de plena felicidade, é a tristeza capaz de provocar lágrimas como se estas fossem neve derretida que norteiam a narrativa. Todavia, ainda que dentro do possível e da realidade, do princípio ao fim, a natureza da trama e da própria Faina não deixa de ter suas características etéreas, deixando o leitor sempre em dúvida, e ainda termina com certo sabor amargo que resgata a natureza tristonha dos contos de fada;

10 – Enfim, A Menina da Neve é uma ótima leitura, num romance cheio de metáforas e cenas contundentes que direcionam os leitores ao pensamento. Portanto uma obra com muitas virtudes e que possui elementos suficientes para sobressair-se além do mero entretenimento. Uma obra singular das ações humanas de das coisas que desejamos.




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