10 Considerações sobre Hamlet, ou como a loucura é reveladora

No post de hoje, a avaliação de Hamlet, de William Shakespeare publicado pelo selo de clássicos da Penguin - Companhia; na lista as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Antes de mais nada, é preciso dizer que não serei eu a "descobrir a pólvora" encontrando muito além do que já foi dito sobre esta obra. Justamente por isso irei buscar tratar de relações deste clássico com o presente, e principalmente dizendo porque é importante lermos estas obras que são pilares da literatura mundial;

2 - Mas, primeiramente vale ressaltar que esta edição (como é de praxe deste selo) é muitíssimo interessante para curiosos e estudiosos do fazer literário. Com uma introdução do especialista Lawrence Flores Pereira bastante abrangente e esclarecedora, e um ensaio crítico de T. S. Eliot que se tornou famoso por apontar os problemas de Hamlet o livro apresenta belos estudos sobre este clássico. Além disso, as notas sobre a obra, bem como a nota do tradutor, se compõe num ótimo material para estudos literários, e dissecam Hamlet;

3 - Agora entrando diretamente na obra, este drama universal que entrou para o cânone do dramático e da literatura, revela-se uma obra tão atemporal que não espanta sua resistência diante o tempo, e mesmo com toda sua composição lírica é totalmente acessível aos leitores e espectadores de hoje;

4 - Além disso, a leitura do livro talvez revele aos leitores coisas que não imaginasse estar sendo influenciado por Shakespeare. Ainda que adaptadas ou com leves mudanças, expressões e observações presentes da peça são comuns hoje em todas as camadas sociais, ainda que muitos desconheçam a fonte de influência;

5 - Isso tudo reforça o quanto William Shakespeare estava a frente de seu tempo, e não só na construção de observações humanas que ainda prevalecem, mas também do uso máximo dos recursos da linguagem, como o uso da alegoria ao preparar uma encenação como a do teatro que prepara como forma de confirmar a culpa do Rei. Como se criasse uma boneca russa, ele colocou uma peça dentro da peça;

6 - Aliás, com a chegada dos atores e a preparação da encenação ao Rei, o eruditismo de Hamlet propicia uma série de observações sobre a dramatização que bem funcionariam como uma espécie de aula a atores, ampliando ainda mais os tentáculos desta peça;

7 - No entanto, no meu caso, fiquei incomodado quando em alguns momentos Hamlet parece esquecer-se da vingança jurada. Aliás, sua fuga para Inglaterra, seu retorno à Dinamarca e o desfecho final da dramatização me pareceram um tanto distante do objeto inicial da vingança. Há também a passagem de tempo da peça que merece um olhar mais aguçado;

8 - Outro ponto interessante de observar esta peça é o olhar de Hamlet sobre os homens (tanto em sua fingida loucura, tanto em sua lucidez) em que costuma apresentar sua visão da vida, neste caso, o momento mais interessante é a cena do cemitério, que acompanhado de Horácio e esqueletos, ele discursa sobre a existência humana e sua finitude tão sombria, destacando ainda que ao fim não há diferença entre os homens, são todos ossos;

9 - Não podia encerrar sem falar da artimanha de Hamlet e sua loucura construída pelo engodo. Hamlet louco pareceu-me o mais sábio dos homens, aproveitando tal momento para dar força às palavras, como jamais tivera antes. Neste caso a loucura mostra-se reveladora, não só do assassínio do pai, mas de toda a sociedade e suas hipocrisias e contradições;

10 - Enfim, muito a frente de seu tempo, Hamlet é destas leituras que você terá de ler algum dia, quando (se ainda não souber) descobrirá que o bardo influencia nossa sociedade moderna muito mais que imaginávamos;



Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem