10 Considerações sobre Leviatempo, de Maxime Chattam ou porque as pessoas são sombrias...

O Blog Listas Literárias leu Leviatempo, de Maxime Chattam publicado pela editora Bertrand Brasil; neste post as 10 considerações sobre o livro, confira:

1 – Leviatempo é um romance sombrio que literalmente traga o leitor para uma França durante a virada do século e nos apresenta personagens à luz da de uma grande revolução do conhecimento ao mesmo tempo que mergulham nas ruas mais sombrias e sórdidas da mente e da capacidade humana de fazer mal;

2 – Ambientado em 1900, o livro nos apresenta Guy, um escritor em busca de inspiração que defronta-se com uma série de crimes escabrosos numa Paris cuja atenções estão totalmente voltadas para a Exposição Universal. Desfilando por bordeis, seitas e pavilhões da exposição, a narrativa ao mesmo tempo que nos mostra um cenário cheio de expectativas, também nos mostra uma série de sombras e podridão que constituíam os cenários da época; 

 3 – Neste ambiente, Maxime Chattam nos conta uma história bastante sombria e com algumas ligações com o mito de Jack, o estripador; com mortes devastadoras e uma angustiante e fétida viagem pelos esgotos de Paris, o leitor não pode ter estômago fraco para acompanhar os assassinatos que se apresentam, pois os crimes que aqui aparecem, além de inúmeros são praticados de uma forma macabra, assustadoramente tanto quanto é possível as pessoas serem; 

 4 – Como me parece comum ao estilo dos romances policiais franceses, neste também há certos detalhes na estrutura da narrativa, visto que o aviso inicial nos apresenta o quanto tempo o autor levou para narrar a trama, visto que tal aviso em primeira pessoa abre a trama para a narrativa em terceira pessoa, uma narrativa provavelmente feita pelo próprio Guy que anos depois retorna a 1900 para enfim escrever sua história sombria; 

 5 – Guy, aliás, é um escritor com a tradicional síndrome da página em branco e que com a necessidade de encontrar novamente a inspiração abandona toda sua vida para se refugiar em uma nova aventura, até que se depara com tais crimes. É justamente por causa disso, que o livro em determinados momentos assume postura didática sobre a literatura, especialmente sobre a constituição de personagens, e como muitas vezes o autor precisa dar maior sentido na literatura, enquanto a vida real é inesperada e improvável; Neste momentos em que Guy adentra o mundo da escrita é um bom professor para novos escritores que podem aprender um bocado com suas dicas; 

6 – Além disso, outras referências à literatura são bem marcantes neste trabalho, como por exemplo, a admiração de Guy por Sir Conan Doyle e seu detetive Sherlock Holmes que de tão influentes sobre este escritor da ficção que impulsionam sua mudança na escrita e sua busca pelo crime; No entanto, diferentemente de Holmes, neste livro os crimes são bem mais sombrios e macabros e discutem a pior das vertentes humanas, a maldade, pura e simples, que possibilita que cenas bem piores que as vistas no inferno; 

7 - Mas para além de um escritor, ao longo do livro Guy se revela também um bom detetive, que porém, sua dedução não é tão lógica quanto a de Holmes, já que não raro a porção escritor toma conta do investigador, que nesse caso fica muito refém de sua própria teoria, embora ele esteja sempre no caminho certo. Outro ponto interessante é que Guy é a mente, enquanto Faustine é a ação, e aliás, é difícil não se encantar por esta personagem;

 8 – (Este item contém um detalhe importante sobre o enredo e pode lhe fornecer spoilers, leia-o, mas saiba do risco.) No entanto, eis aqui um aparte cuja culpabilidade deve ser dividida entre autora e editores. Num romance policial, a grande atração do leitor, especialmente na construção proposta, é elucidar conjuntamente com o autor, o culpado. Seguimos pistas, chegamos perto, passamos longe, tudo isso é muito normal, mas inegável que um dos grandes prazeres é o leitor bancar também o detetive. Obviamente, se este fosse um livro que desde já entrega o assassino, meus apontamentos não seriam necessários, mas como não é o caso, a escolha do título, embora ainda que não tão óbvia, praticamente entrega o mistério, mas isso não é grande, porém, já que este está na capa, pois ela é um spoiler sem tamanho, e basta o leitor juntar dois mais dois que no primeiro momento que o assassino surgir, poderá ser revelado, pela capa e pelo título; 

 9 – Mas o que importa é que Leviatempo é um ótimo romance policial, e que consegue reunir grandes virtudes do gênero através de uma narrativa que absorve completamente o leitor, enquanto se debate com boa profundidade as partes sombrias da humanidade, e tudo isso com muita ação, movimento, cenários intrigantes, e principalmente personagens que convencem o leitor; 

 10 – Enfim, Leviatempo é uma leitura que não decepciona os fãs da literatura policial. Com um cenário intrigante e uma série de crimes de arrepiar os cabelos, é suspense garantido, com boas doses de reflexões literárias e humanas.





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