Antônio Xerxenesky nasceu em Porto Alegre, 1984 é ficcionista, autor do romance Areia nos dentes (Não Editora, 2008; Rocco, 2010) e do volume de contos A página assombrada por fantasmas (Rocco, 2011). Atua como editor na Não Editora, onde organiza a revista online de crítica literária Cadernos de Não-Ficção.
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Livros não deveriam ser adaptados para games, assim como games não deveriam ser adaptados para livros. Não os bons, ao menos. São formas de arte tão distintas que pensar nestas adaptações parece, de vez em quando, tentativas de imaginar uma obra arquitetônica no formato de uma canção de heavy metal (sim, isto foi uma distorção da frase “Falar sobre música é como dançar sobre arquitetura”). O que segue abaixo, uma lista de adaptações possíveis de livros para o mundo dos videogames, não passa, portanto, de uma brincadeira.
1- Moby Dick, de Herman Melville: Moby Dick poderia funcionar muito bem no formato de um RPG de ação como Mass Effect 2: o protagonista caminhando pela nave (no caso, o navio) conversando com tripulantes, explorando ilhas vizinhas, resolvendo os problemas pessoais dos outros (imagine: um sidequest no qual você precisa fazer um favor a Queequeg, como vingar a morte de seu irmão na ilha de canibais de onde ele veio), enquanto a trama principal (a caça à baleia) se desenrola. Dilemas morais e longos monólogos aconteceriam.
2 - O paraíso é bem bacana, de André Sant’Anna: Jogos de videogame são divididos entre os “narrativos” e os “não-narrativos”. Games de esporte fazem parte do segundo tipo: são partidas descontextualizadas (no máximo, existem dentro de um campeonato). Não há diálogos ou enredo. Mas imagine que sensacional um jogo de futebol à moda de Fifa ou PES intercalado com uma trama envolvendo Muhammed Mané, de seu início na cidade de Ubatuba até o sucesso na Alemanha e a explosão inexplicável da bomba. Rá rá rá rá rá!
3 - O terceiro Reich, de Roberto Bolaño: Sempre que penso nos jogos de grand strategy da Paradox, como Europa Universalis e Hearts of Iron, me lembro do jogo de tabuleiro de guerra descrito por Bolaño neste livro. Seria muito fácil (mas moralmente complicado) adaptar O terceiro Reich para um jogo nesta linha. A diferença é que o jogador poderia escolher entre Udo Berger, o alemão turista, ou Queimado, o latino-americano torturado.
4 - A metamorfose, de Franz Kafka: Tecnicamente, a mais famosa novela de Kafka já recebeu uma adaptação bem livre para os games. Tá duvidando? Pesquise o jogo Bad Mojo, de 1996. Nele, você controla um homem que foi transformado em uma barata que precisa desviar de vários obstáculos – o que inclui ratos mortos, navalhas antigas etc. Sim, todos sabemos que Gregor Samsa vira um inseto mais próximo de um besouro, mas aceitemos a liberdade poética dos desenvolvedores. E que tal se saísse uma versão nova desse jogo, um Bad Mojo HD, quiçá mais fiel ao clássico de Kafka? E se o objetivo desta hipotética adaptação fosse realizar o sonho de Samsa, isto é, chegar ao trabalho na hora, sentar em sua cadeira, deixar o chefe contente?
5 - Ubik, de Philip K. Dick: Qual livro de Philip K. Dick não inspiraria um jogo? Difícil dizer. Ubik poderia ser recontado como um jogo em primeira pessoa, gênero dominante no cenário atual. A grande graça estaria na arma Ubik. Assim como Half-Life 2 revolucionou os jogos em primeira pessoa tendo uma arma de gravidade, Ubik teria uma arma de realidade – afinal, era isso que o spray Ubik fazia no romance de K. Dick: restaurava o real. Se Ubik representa Deus, pouco importa. Eu quero mais é espalhar o spray por aí.
6 - House of leaves, de Mark Z. Danielewski: O livro do Danielewski possui tantas referências pop e brincadeiras formais que ele é praticamente um videogame em forma de livro. Ainda assim, adoraria ver um jogo experimental de horror, na linha de Amnesia: The Dark Descent e Penumbra, no qual você caminha por lugares sombrios sem saber direito o que diabos está fazendo lá… até o momento em que toma um susto pavoroso e sai correndo para longe do computador.
7 - Idoru, de William Gibson: Os games devem tanto, tanto, tanto, tanto às ideias de Gibson, que é difícil imaginar que System Shock e Deus Ex existiriam se não fossem os livros de Gibson e o universo cyberpunk por ele criado. Ainda assim, faz falta um RPG futurista que seja uma adaptação fiel de suas obras (o Neuromancer de 88 não vale). Idoru tem todos os elementos de um bom RPG futurista: conspirações, corporações, ídolos virtuais…
8 - O tempo e o vento, de Erico Verissimo: A trilogia épica do autor gaúcho Erico Verissimo trata, entre outras coisas, de guerra e honra – temas perfeitos para o mundo dos games. Imaginem um Red Dead Redemption onde você controla o Capitão Rodrigo e participa de tensas escaramuças? Um faroeste sul-rio-grandense: meus olhos se enchem d’água só de pensar.
9 - Medo e delírio em Las Vegas, de Hunter Thompson: Só japoneses seriam capazes de adaptar qualquer livro de Hunter Thompson. Games ocidentais costumam ser muito comportados, e evitariam temas como alcoolismo e abuso recreativo de drogas. Mas é uma receita para o sucesso: um protagonista se deslocando por cenários delirantes, enfrentando morcegos e os demônios de sua própria imaginação.
10 - Finnegan’s Wake, de James Joyce: Um jogo de adventure à moda de Myst, no qual você passa a maior parte do tempo tentando entender o que diabos está fazendo e o que precisa ser realizado para avançar. De alguma forma (e uns dois meses depois), você chega ao final do jogo, e tenta extrair um sentido de tudo aquilo. Sente-se meio burro e vai atrás de alguma explicação na internet.
*Texto publicado no blog do autor
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=D
ResponderExcluirAi, eu e minha falta de curiosidade. Eu jurava que o Xerxenesky era um quarentão! Ver essa fotinho me assustou deveras...
rsrrsrs.... é mais novo que eu!
ResponderExcluirXerxenesky é bom escritor e bom resenhista.
ResponderExcluirXerxenesky é bom escritor e bom resenhista.
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