10 Motivos para ler Dinheiro Queimado de Ricardo Piglia

O escritor Dan Cristoff participa de mais uma colaboração aqui no Listas Literárias. Neste post ele aborda o livro Dinheiro Queimado, de Ricardo Piglia. Confira: 

1. Nene Brignone e Dorda, O Gaucho Louro, é o casal de foras da lei mais perigoso, desde Bonnie e Clyde. Os Gêmeos, porque são inseparáveis, embora completamente diferentes, formam o braço armado de um grupo que participou de um assalto ao carro-forte que levava o pagamento dos funcionários da Prefeitura de uma cidade interiorana, na Argentina de 1965 (isso é real, mesmo!);

2. Essa é uma história policial, porém com o detalhe de que o "detetive", figura do Delegado Silva, persegue os assaltantes até Montevidéu para silenciá-los, depois destes terem descumprido o pacto do suborno (e dizem botar a mão na Plata);

3. O dinheiro será queimado. Está no título. Não é spoiler. Mas será impactante. E será um soco no estômago. Você verá;

4. Os bandidos são bandidos. Da pior espécie, aliás, Nenê é manipulador. Dorda é um psicopata esquizofrênico. Corvo Meirelles, motorista do bando, é daqueles biscateiros que perambulam pelo baixio das bestas (ele inclusive diz que já morou no Brasil). Malito, o engenheiro, foi fonte para um tal de professor, em um seriado espanhol sobre um atraco. Tenho certeza (mas pense em um professor muito mais sombrio e perverso). Apesar disso, seguir a sua espiral de decadência irá te atrair e fazer se postar na frente do apartamento, na rua Herrera y Obes, em Montevidéu, onde ficam todos encurralados;

5. Tarantino, de alguma forma, soube dessa mesma história baseada em fatos reais e bebeu dessa fonte para o que viria a ser o seu "Cães de Aluguel". Reparem: bandidos metidos em ternos. Um assalto malsucedido. Traições. Reviravoltas. Na cena final do livro, os bandidos encurralados em um apartamento. Na cena final do filme, os bandidos encurralados em um armazém. 

6. A peculiar linguagem ou narrativa jornalística que toma de assalto a trama, principalmente do cerco policial em frente ao apartamento para o final do livro. Na medida em que diversos policiais vão perdendo a vida no tiroteio, Piglia os descreve como "agonizava o agente, de trinta e dois anos, pai de dois filhinhos". Ou então "A essência tática do bando de Malito, seu brilho trágico (escreveria mais tarde Renzi em sua crônica dos fatos para página policial do jornal El Mundo)". Detalhe, Renzi é o alter ego de Ricardo Piglia e aparece em outras de suas obras;

7. Essa mesma narrativa "diferentona" já estava no livro. Por exemplo, Piglia em dados momentos refere "o mais alto (dizem as testemunhas) usava uma meia de mulher na cabeça, mas o outro estava com o rosto à mostra";

8. Para leitores/escritores o livro é uma aula de como escrever cenas de conflito armado. Tiros. Rajadas. Disparos. Tudo de forma seca e fulminante;

9. Quem morre? Alguém vive? E um mistério... Piglia nos carrega nessa expectativa até o final; 

10. A forma peculiar - e quase fortuita - que Piglia terminou por conhecer de perto boa parte dos fatos reais que forneceram a base para Dinheiro Queimado, enquanto viajava de trem pela Bolívia. Isso está no belo epílogo, na edição lançada pela Companhia das Letras. Imperdível! 


Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem