Apertem os cintos! 10 considerações sobre Terror a bordo, editado por Stephen King e Bev Vincent

O Blog Listas Literárias leu Terror a bordo [em sua versão e-book], editado por Stephen King e Bev Vincent publicado pela editora Suma; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Apertem os cintos, pilotos literários, pois Stephen King nos lembra que dentro do avião "enquanto seu tubo lotado sacode para um lado e para outro, você tem tempo de refletir sobre a fragilidade do seu corpo e aquele único fato irrefutável: você vai descer". Neste livro editado por Steve e Bev Vincent, 17 histórias [um delas em poesia, que em e-book tem prejudicada a leitura] que nos lembram a cada conto que lá em cima, no alto, aviões, gigantescos tubos de aço, ferro e tudo mais, caem, e quando caem, o terror é imediato e segundos tornam-se horas, histórias que inevitavelmente você se relembrará na próxima vez que estiver num aeroporto;

2 - Na seleção, os editores entregam um material bem diverso aos leitores, sendo um conto inédito de Stephen King e outros já publicados que neste volume adentram coletânea temática. Nesse aspecto vale dizer que tal diversidade é marcada tanto pelo tempo, pois são narrativas em diferentes momentos da aviação, bem como, diversidade em estilo, uns mais pendentes à ficção científica, como "Ataque aéreo", de John Varley, enquanto outros como o do próprio King "Os especialistas em turbulências" ou "A carga", de E. Michael Lewis caminham pelo sobrenatural, em todos eles, contudo, os signos da aventura e do mistério que ainda permanecem em viagens aéreas;

3 - Sobre o conto de Stephen King, aliás, duas coisas interessantes a se observar. A primeira é que ele parece dialogar ou pertencer a ideias já existentes em outras obras de King, especialmente O Instituto. King parece acreditar numa organização de uso de poderes paranormais. No caso do conto, a fim de trabalhar a partir da possibilidade de se evitar tragédias aéreas, função dos especialistas em turbulência. O conto também dialoga com o conto de Varley, pois ambos percorrem a mesma intenção, salvar as pessoas de acidentes aéreos, só que no conto de Varley isso sob a ótica da ficção científica e de jornadas do futuro;

4 - Um dos contos mais interessantes no que pode nos provocar é "Horror nas alturas", de Arthur Conan Doyle. Na apresentação, os editores reforçam "lembrem-se de que foi publicado em 1913". A partir dessa lembrança interessantes movimentos se acionam nos leitores, como observar o encantamento e o medo causado pelas novas invenções dos homens, e como, mesmo assim, esse medo nos impulsiona sempre a querer ir para além das nuvens;

5 - Outro grande conto de qualidade na seleção é "Eles não vão envelhecer", de Roald Dahl, que inclusive foi piloto durante a guerra. Na obra uma interessante alegoria acerca da morte numa narrativa que talvez explicite a fé e a aceitação da morte enquanto passagem de um mundo para outro. Nisso a maior força do trabalho, que em sua mensagem é de grande eficiência;

6 - Contudo, talvez o conto que mais represente a tensão de uma viagem de avião seja "Pesadelo a vinte mil pés", de Richard Matheson. O conto brinca eficientemente com as paranoias e os medos de quem já é desconfiado ao entrar, e acima de tudo nos ensina como não é bom viajar próximo das asas e como jamais se deve olhar pela janela. Podemos ver coisas desagradáveis e assustadoras. Em termos de terror, talvez seja o conto mais eficiente da seleção;

7 - Dentro da diversidade dos contos exibidos, alguns, o avião em si é mero cenário, pois os terrores e assombros não estão diretamente ligados ao meio de transporte. É o caso das narrativas de toques policiais, caso de "A quinta categoria", de Tom Bissell, um conto sobre espionagem cujo horror desperte desta atividade e o avião acabe sendo apenas um local seguro para atos de tortura;

8 - O avião também acaba apenas como cenário em "Assassinato nas alturas", claramente um conto policial que embora bem engendrado e curioso, ao cabo, para o gênero, é de solução previsível e bem demarcada, sendo talvez, um dos contos mais simples da coletânea;

9 - Há ainda dois contos mais curtos e que soam como fábulas, ambos homônimos "A máquina voadora", o primeiro de Ambrose Pierce e o segundo de Ray Bradbury que tenta produzir uma fábula oriental acerca do medo do futuro. Já no de Pierce uma ácida e voraz leitura dos homens e do poder do dinheiro vistos com sarcasmo e mau-humor;

10 - Enfim, na média, em geral, são interessantes narrativas tendo o avião e as alturas como elemento destas jornadas cheias de aventura e medo. Alguns contos, embora o avião não seja o protagonista, não descem a gradação das tensões e nos que de forma mais explícita tratam exclusivamente dos pesadelos que podem despertar numa viagem de avião, bem, nesses casos e por essas leituras, talvez suas próximas viagens não sejam mais as mesmas.


   

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