Uau! 10 Considerações sobre A Verdadeira História da Ficção Científica, de Adam Roberts

O Blog Listas Literárias leu A Verdadeira História da Ficção Científica - Do preconceito à conquista das massas, de Adam Roberts, publicado pela editora Seoman; Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Vigoroso, contundente e provavelmente completa, A Verdadeira História da Ficção Científica de Adam Roberts é um deleite não só para os aficionados e estudiosos da FC, mas para qualquer interessado em literatura e na cultura, pelas quais Roberts perpassa não só por obras conhecidas por grande parte do público  - estejam elas nos livros, nos cinemas, nas artes, etc... - mas compartilhando sua vasta leitura, e com isso amplia ainda mais nossas listas futuras de obras que precisam ser lidas;

2 - Nas mais de setecentas páginas de uma leitura inebriante, Roberts principia sua abordagem desde os anos 1600 focando em seu "argumento central [que] não é apenas que a FC tem origem na reforma; é também que o clima cultural febril dessa época moldou a FC, escreveu  seu DNA em formas que se manifestam, com força substantiva, mesmo no Século XXI". Assim, com força qualitativa e quantitativa, o livro aborda desde a problemática das Definições, trazendo Ficção Cientifica e Novela Antiga, Do Romance Medieval à Utopia do Seculo VI, Ficção Científica do Século XVII, Ficção Cientifica do Século XVII: o Grande, o Pequeno, Ficção Científica do início do Século XIX, Período 1850-1900: Mobilidade e Mobilização, Verne e Wells, O Início do Século XX, : FC do Alto Modernismo, e, As Revistas Pulp, A Era de Ouro da FC: 1940-1960, O Impacto da New Wave, FC nas Telas, FC em prosa das décadas de 1980 e 1990, Fins do Século XX: Multimídia até o presente com a FC do Século XXI;

3 - Ainda que a tradução traía um pouco o autor ao ampliar o título com a expressão "verdadeira", palavra que de certa forma corromperia a dialética presente e constante nas abordagens do autor tornando sua visão demasiado autoritária, há na argumentação eloquente de Roberts uma boa dose de sinceridade quando revela "como histórica crítica, este trabalho tem também certa tese a defender. Espero evitar o viés tendencioso, mas meu argumento não é neutro - se é que pode existir de fato um argumento crítico puramente neutro". Isso não só ajuda a posicionar o leitor, mas também fortalece a discussão proposta ao assumir uma não neutralidade, criando assim um vinculo interessante no processo de leitura, que diga-se, é bastante prazeroso;

4 - Na verdade, embora um livro fundamental para as academias e para os estudantes, a obra não afasta o leitor comum, pelo contrário, com uma linguagem arguta, eficaz e precisa, Roberts sabe como manter a atenção, de modo que constrói tanto seus elogios quanto suas criticas de uma forma envolvente e cuja precisão e impacto são perceptíveis em ambos os casos. Além disso, melhor ainda quando as coisas se nublam e um elogio passa a ser crítica, pois Roberts possui uma maneira muito particular de desconstruir discursos e mitos por meio de seu discurso - e um pouco de retórica - argumentado, conseguindo caprichar tanto nas colheres de ácido, quanto nas de mel, todavia, num todo equilibrado que ele não se furtar de elogiar quando o quer, tampouco de criticar com veemência de um cavalheirismo nobre sem perder o impacto daquilo que aponta;

5 - Todavia, em síntese, ou autor nessa longa linha diacrônica de estudos irá a cada capítulo fortalecer sua tese de que "falando em termos históricos, a FC expressa uma dialética particular determinada a princípio pela separação das visões de mundo protestante e católica (ou, se preferirmos termos ais destituídos de sectarismo entre deísmo e panteísmo mágico) que emergiu no Século XVII. Os Textos de FC são mediadores desses determinantes culturais com diferentes ênfases, algumas mais materialistas, outras mais místicas ou mágicas" e ao final, diante da vigorosa e consistente argumentação não deixaremos de concordar com a visão de Adam Roberts;

6 -  Outro elemento interessante e de presença relevante na discussão do autor será expresso no subtítulo - Do preconceito à conquista das massas - pois o autor ao percorrer seu longo caminho tratará desta relação entre FC e a dita "literatura", ou seja o mainstream, bem como a relação da FC com as massas, especialmente o impacto desta relação e os reflexos em toda a indústria cultural do presente. Nesse aspecto específico, Roberts demonstra o importante espaço ocupado pela FC hoje;

7 - Aliás, o autor ao discorrer senão todos, mas os principais passo da FC no mundo acaba por fim sugerindo que, "no Século XXI, a FC (e a Fantasia) se tornaram culturalmente dominantes" ainda que pondere que não pretende "insinuar que a FC engoliu todos os outros gêneros, ou eliminou a distinção entre mainstream e pulp". Na verdade aponta para o fato de que a FC e a criação fantástica nos últimos anos têm dominado o alcance das massas, tanto em livros, bestsellers como Jogo Vorazes e Harry Potter e nos cinemas;

8 -  Vale dizer que tais argumentações de Roberts surgem de sua capacidade ampla de visão, fortemente marcada pelos estudos culturais e pelo amplo conjunto de leituras presentes no estudo, e que abarcam tanto a perspectiva das relações da literatura com a sociedade, nesse caso, entre as influências recíprocas entre sociedade e FC, e ainda uma abordagem histórica de grande fôlego. Com isso, podemos dizer que é um trabalho praticamente completo acerca desse gênero, e que diante dele, qualquer outra publicação sobre a FC deverá agregar muita consistência. E o fundamental nessa completude de trabalho é observar o que aponta Gustavo Schoereder no posfácio da publicação "é preciso mais conhecimento, e preciso ter lido mais livros, visto mais filmes. E, é claro, é preciso ter acesso a discussões mais profundas sobre o assunto". E esse ponto, Roberts alcança, em algo que me remete aqui no Brasil a Antonio Candido quando diz que ao crítico é preciso erudição e capacidade de penetração. Aliás, a questão da neutralidade é algo que poderemos também encontrar nas notas de Candido sobre critica literária. Bem, o que pretendo dizer aqui é que a obra é de um alcance descomunal e sua erudição chega ao leitor num estilo bastante popular que faz jus à FC;

9 - Claro, que se o próprio Roberts no interior do texto procura não ser autoritário convidando ou deixando aberturas para ampliações ou novas discussões, não fecharia esta leitura dizendo coisas como completo, por isso o praticamente. Mesmo nesse gigantesco universo de leituras realizadas, logicamente não se e possível tratar de toda a FC no mundo, como a FC brasileira, por exemplo. Aliás, Roberts cita uma única obra brasileira no livro, e ainda que traga alguns exemplos de produções orientais, o livro acaba pode centrar-se nas produções europeias e norte-americanas, o que e bastante natural, mas depreende que consideremos isto. Além disso, até porque vai de encontro à discussão e à dialética abordada, penso que obras como a série Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L'Engle, e algumas obras de Stephen King que pendem para a FC, como A Zona Morta, A Incendiária ou mesmo Carrie, poderiam ser tema de debate pelo autor;

10 - Mas enfim, dito tudo isso, vale ao final, dizer que esta é uma experiência majestosa de conhecimento, e que ao fim não deixa de trazer-nos uma mensagem de esperança. Se por um lado, ao observar a produção do Século XXI aponta "a preponderância do que poderíamos chamar da branda distopia ou uma deriva para ela " - ainda que branda, me atrevo a dizer, seja a palavra errada" ao fim encerra sua saga de forma bastante otimista dizendo que "a vitalidade das culturas contemporâneas de FC, para não mencionar sua diversidade e inventividade, nos dão motivo de esperança. A FC, o presente estudo tem argumentado, é um modo de expressão cultural - um meio de fazer arte - com raízes muita mais profundas do que se percebe habitualmente. Raízes profundas são um prenúncio de longa vida tão bom quanto qualquer outro. Podemos olhar para frente com otimismo".



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