10 Considerações sobre A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells ou por que é preciso olhar para o céu

O Blog Listas Literárias leu A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells publicado pela editora Suma das Letras; neste post 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – Um grande clássico da ficção científica e da literatura mundial, A Guerra dos Mundos, descontados nossos avanços tecnológicos em relação a quando a obra foi escrita (1897), permanece em nosso imaginário tanto por seu pioneirismo tanto quanto pelo talento de Wells em narrar uma história, cheia de ritmo, ação e aventura ao mesmo tempo que imbrica-se por reflexões a respeito da natureza humana;

2 – Mas antes de falarmos da obra em si, nesse caso é importante ressaltar essa bela reedição do romance feita pela Suma das Letras, com sua belíssima capa dura, somada com a inclusão das ilustrações originais feitas pelo brasileiro Henrique Alvim Corrêa, além do prefácio sóbrio de Braulio Tavares e a introdução ensaística feita por Brian Aldiss colaborando para a ampliação da nossa compreensão do quão inovadora foi a obra de Wells em seu tempo;

3 – E nesse caso estamos falando muito provavelmente da primeira obra ficcional a tratar de uma invasão alienígena na terra, usando obviamente do fascínio da época pelo planeta Marte, antes das descobertas da Nasa sobre o Planeta Vermelho e da certeza de não haver vida por lá. É de marte os extraterrestres que tomam a Inglaterra de assalto na obra de Wells, com suas tecnologias avançadas e sem qualquer tipo de ação humana moralizante os invasores chegam, tomam e aniquilam os ingleses, mas entretanto, mesmo sendo a ameaça vindo de além-atmosfera, veremos ao longo da narrativa que é sobre nossas coisas terrenas que versam as reflexões mais importantes do livro;

4 – Dizendo isso, é preciso reforçar o quão a obra ainda influencia nossa ficção e mesmo nossa fixação com visitantes alienígenas (o que nos faz pensar no programa Alienígenas do Passado, será que Wells queria nos passar uma mensagem? rs), e como boa parte do que ainda é produzido hoje está diretamente relacionado com os pilares lançados por Wells em A Guerra dos Mundos. Um desses exemplos é que boa parte da ficção alien há o aproveitamento da tecnologia extraterrestre como vemos em Independence Day ou Transformers. Além disso, Wells aponta inclusive para avanços humanos adquiridos com “a visita”, como por exemplo, “os segredos do mistério do voo”.

5 – Entretanto não se trata de uma obra a respeito do gigantismo dos marcianos invasores, mas sim uma demonstração feita por Wells sobre como nossa espécie humana é pequena (quiçá insignificante) perante o imenso universo. Toda sua narrativa é permeada por uma imagem que foi explicitada de forma didática nas cenas pós-créditos de MIB – Homens de Preto quando o planeta Terra não passa de uma bolinha de gude arremessada por um alien brincalhão, pois ao longo do livro o narrador não cansa de trazer comparações de escala enfatizando que para os marcianos os humanos eram tão somente insetos, e este certamente viam os humanos como criaturas gigantescas e indestrutíveis. Esse é um jogo intenso na obra, marcado principalmente pelas discussões a respeito da teoria da evolução das espécies de Darwin e das recentes descobertas a respeito das bactérias que desempenham papel fundamental no romance;

6 – Mas se por um lado essa presença da ciência biológica se faz tão presente e importante, o mesmo ocorre com a filosofia e as reflexões acerca do comportamento humano (algo que justifica-se com o fato de o autor ser da área da filosofia especulativa conforme confidenciado), especialmente nos momentos de crise e principalmente quando a ordem existente é rompida trazendo com isto uma nova e abrupta realidade. Esse tipo de observação feita por Wells no romance ainda é tão presente que sucessos como The Walking Dead dialogam com A Guerra dos Mundos ao demonstrar pelas ações dos personagens dos diferentes comportamentos diante a necessidade de sobreviver. Aliás, o próprio e não identificado narrador de A Guerra dos Mundos é um exemplo da brutalidade e das ações tomadas em pról da sobrevivência, mesmo que tenha de se fazer algo que jamais se faria no funcionamento normal da sociedade, como por exemplo, matar;

7 – Falando nisso, olhar para o narrador de A Guerra dos Mundos é fundamental. Ainda que falarmos de verossimilhança no romance tenda a ser injusto após o avanço de tantos anos no tempo, duas questões não podem escapar: uma é de que Wells, especialmente para sua época, é capaz de pincelar nos entremeios da ação elementos e detalhes que exercem justamente a função de trazer à obra verossimilhança, como as citações de conflitos ingleses do período. A segunda é que independentemente da época da leitura, há uma questão do narrador que deve de todo modo ser observada com lupa pois acaba fragilizando suas história. Vejamos que o narrador, uma testemunha em primeira pessoa que participou de uma série de ações em campo durante a invasão marciana possui todas as propriedades para narrar seu ponto de vistas, suas memórias, com tudo que enseja a carga de uma narrativa memorialista. Entretanto, quando passa a narrar a destruição de Londres esse mesmo narrador passa a descrever os fatos acontecidos na cidade a partir do que seriam os testemunhos de um providencial irmão, o que pode até funcionar, entretanto ao final da invasão e no presente em que o narrador escreve suas memórias ele não volta a citar o reencontro com o irmão, algo que seria importante para justificar sua narrativa dos fatos acontecidos em Londres;

8 - E falando nesse narrador sui generis de Wells é importante atentar para seu anonimato. Dele sabemos se um homem erudito, casado e com algumas posses, morador de Woking. Mais do que isso ficam para as especulações pois sobre ele mais saberemos apenas sobre suas ações e escolhas e aquilo que nos revela dos marcianos, além de ser um escritor e de tratar das filosofias especulativas. Tudo isso certamente pode colaborar para uma imaginação de um alter ego do próprio H. G. Wells, a introdução de Brian Aldiss inclusive aponta elementos na narrativa que incorporam experiências vividas pelo autor. Contudo, creio que a questão mais significativa aqui está justamente no que implica esse anonimato na relação entre narrador e leitor. Na verdade, provavelmente não desejaria o autor chamar a atenção para personagens, mas sim ao fato, e a isso o anonimato do narrador serve perfeitamente porque em nenhum momento abandonamos o cenário de caos provocado pela chegada das “estrelas”. Além disso, o próprio narrador estabelece o seu narratário o leitor comum, não os eruditos ou acadêmicos deixando nisso a clara intenção de comunicar-se com as massas, e para isso não precisava Wells de um herói, mas sim um contador de histórias que anos depois na voz e na adaptação de Orson Welles foi capaz de aterrorizar os Estados Unidos pelas ondas de rádio;

9 – Como viram, essa é uma leitura da qual somos incapazes de falar pouco, pois em sua trama aparentemente simples poderíamos extrair do livro diferentes e novas leituras mesmo nos dias de hoje, além das reflexões que em muitos casos permanecem contemporâneas, ainda que polêmicas. Do mesmo modo, além dessa possibilidade de estabelecer novos olhares, o romance ainda é a principal base de quase tudo que vimos por aí a respeito de invasões alienígenas visto que Wells não só trouxe para o romance questões que pululavam nos anseios e pensamentos de seus pares, como foi capaz de antever comportamentos ao mesmo passo que produzia um legado para nosso fascínio pelas estrelas, pelo cosmos, pelo espaço;

10 – Enfim, sem maiores delongas, A Guerra dos Mundos é certamente um dos clássicos que você vai gostar de ler. Se for um fã então das aventuras extraterrestres, essa é uma leitura obrigatória, pois imagino que talvez sequer houvesse área 51 sem este romance. Simplesmente, quem ainda não leu, leia.



1 Comentários

  1. Imagino que esse livro seja ótimo, fez muito sucesso em seu lançamento e até hoje é lembrado, adoro a história, meu filho é fã do filme rsrs

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