10 Considerações sobre Quarto, de Emma Donoghue ou porque este livro é "giganorme"

O Blog Listas Literárias leu Quarto, de Emma Donoghue (livro que deu origem ao filme O Quarto de Jack) publicado pela editora Verus; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o Livro, confira: 

1 - Quarto é simplesmente uma leitura eletrizante ao mesmo tempo que é sensível e emocionante. Uma obra que resgata valores do porque escrevemos e do porque lemos literatura, aliando uma técnica narrativa brilhante e uma voz narrativa autêntica e tão crível que é quase impossível encontrar defeitos;

2 - O livro nos envolve completamente com a voz do pequeno Jack, nascido num cativeiro em que sua mãe está há sete anos. Com um olhar afiado e coerente o "pequeno grande herói" deste romance nos narra com virtudes poucas vezes encontrada sem em momento algum escorregar na proposta do romance, criando assim uma obra profunda, complexa, inteligente, e isso ao mesmo tempo que consegue nos capturar como os thrillers de entretenimento;

3 - E grande parte das virtudes desta narrativa se dá justamente na amplitude de seu campo psicológico, pois esta seria uma obra que teria de tudo para cair nos clichês, no raso, contudo, a história que Jack nos narra é tão crível e real seguindo sempre a lógica de um garoto de sua idade e com o seu olhar influenciado pela característica peculiar de sua vida;

4 - Além disso, devemos ressaltar que o livro dialoga de uma forma incrível com a literatura ao passo que a mãe de Jack o apresentou, mesmo ambos no cativeiros, a obras que mais do que ensinar o garoto, dialogam diretamente com a própria narrativa sendo que em determinados momentos a nova obra encontra-se com suas próprias referências como é o caso quando Quarto torna-se praticamente a João e o Pé de Feijão, primor seria uma boa palavra para definir como o livro dialoga com outras árvores;

5 - E tudo isso sem baixar a adrenalina e a dose de suspense presentes no livro. Poucas são as obras capazes de mexer com nossas percepções sensoriais, e Quarto é uma destas obras, pois há momentos que se tornam impossível não prender a respiração ou temer o pior, pois a narração mais do que envolver, nos leva para dentro dela;

6 - Dessa forma, o leitor de Quarto tem uma série de possibilidades e escolhas sobre como ler ou observar o livro. Pode ser uma aventura nova, com muita ação e suspense, ou como pode ser uma observação de ordem psicológica que também poderia render ótimos estudos sobre o livro;

7 - Aliás, o caráter altamente psicológico desse romance deve chamar a atenção dos leitores para as suas nuances pois a voz inocente e em certo grau fragilizada e traumática de Jack abre portas para outros olhares nada explícitos, mas sim muito escamoteados no texto, mas que entretanto congregam uma série de debates da psicologia, principalmente na linha de estudos de Freud;

8 - Sem falar que o livro foge nas linhas tradicionais em que se estabelece a narrativa. O tempo de recorte que temos da história de Jack e sua mãe não pende para o fácil "felizes para sempre", ou "acabou e pronto". O livro mostra de certa forma o que vem depois do trauma e pincela algo importante que é mostrar que a salvação se dá numa escala de tempo maior em que adaptação e convivência com o pós-trauma é tão importante quanto o restante;

9 - Todavia, como numa crítica sempre se pede que observemos detalhes a serem questionados, mesmo em obras excelentes como esta, no caso de Quarto poderíamos questionar as citações referentes ao nazismo, algo estranho para uma mãe contar ao filho num cativeiro, ou então, já nas últimas páginas do livro quando num espaço muito curto podemos perceber que Emma Donoghue assume a voz de Jack por um breve instante e aborda essa problemática americana;

10 - Enfim, Quarto é uma obra excelente em que será impossível o leitor não interagir com ela. Uma obra que mostra vigor e relevância da literatura contemporânea. Uma leitura imperdível.




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