10 Considerações sobre Hugo & Rose, de Bridget Foley ou porque sonhos podem se tornar pesadelos

O Blog Listas Literárias leu Hugo & Rose, de Bridget Foley publicado pela editora Agir. Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – Hugo & Rose é um livro que subverte as primeiras impressões do autor. Desde a forma de apresentação aos primeiros passos do romance, temos a sensação de estar diante mais uma destas histórias açucaradas, no entanto, não demora muito para que estas percepções se desfaçam como os sonhos que se tornam pesadelos. É, portanto, uma obra que reúne alguns elementos interessantes e é mais do que parece ser;

2 – A começar pelo argumento “entrelaçando” duas vidas através dos sonhos de Rose,  que divide uma ilha onírica (ao melhor estilo Lagoa Azul) com o jovem Hugo a tal ponto que este sonho de universo recorrente domina absolutamente a vida real de uma Rose já adulta e de uma concepção bastante e amarga sobre aquilo que a cerca: família, vizinhos, etc…

3 – Aliás, Rose é uma personagem irritante (no bom sentido) pois suas ações são convincentes no quando se trata de provocar o leitor ao agir de maneira extremamente temerosa, colocando a ela e a família em risco, ao passo que a singularidade de encontrar o homem de seus sonhos afunda-a cada vez mais numa completa confusão psicológica;

4 – Com isso observamos o fortalecimento das obsessões e de como esta pode colocar as pessoas num movimento perigoso, como no caso de Rose que assume uma posição de “Stalker” em que acaba não medindo as consequências, sem observar qualquer ponto de razão ou equilíbrio. Além disso, suas ações chegam ao ponto do desprezível, especialmente da forma que lida com o esposo Josh, e como, sem qualquer juízo, leva para dentro de sua casa o perigo;

5 – Esse mergulho perigoso nas obsessões tem continuidade com o Hugo da Vida Real. Ainda que seus traumas passados tenham forte peso, bem como a singularidade de seus presentes, a forma que Hugo e Rose lidam com tudo é levada ao limite máximo da obsessão, a tal ponto de inverter o natural, desejando-se então o imaginário do que o real;

6 – Assim, Hugo & Rose logo se revela verdadeiramente ao leitor. Diferente do que se esperava, o romance açucarado não está presente, mas sim o drama encarnado pela protagonista de perfil psicológico frágil, e uma trama que em vários momentos pende para o suspense;

7 – Nessa questão o livro é bastante exitoso, pois sua ambientação e suas personagens são coloridas com tintas perturbadoras em determinados momentos, afinal, sonhar a vida toda com a mesma coisa não tem nada de legal, e, isso pode piorar quando salta para fora da dimensão dos sonhos. Todavia, há ainda as passagens que o suspense é destacado através de situações e ambientes que incomodam e mexem com o leitor;

8 – Somado a isso, o livro ainda possui certos ares de fantasia, ao cabo que os sonhos de Rose e Hugo são dotados de imagens cheias de elementos fantasiosos como castelos, animais fantásticos, etc… esta fantasia (que fica no campo do fantástico) em determinados momentos (inclusive quando salta para o mundo real) está tomada por ação e movimento. No entanto, tudo se dá na dimensão psicológica das personagens, que é justificada por elementos bastante realistas e científicos;

9 – Mas aí reside um problema no livro, e, ainda que tudo relacionado ao “entrelaçamento” de Hugo e Rose seja verossímil, determinadas falhas, esquecimentos, ou até mesmo ausência de explicações mais claras quanto ao que e em que momento se unem Hugo & Rose fragiliza a narrativa (ainda que não a diminua). Entendemos o fenômeno, no entanto ainda nos falta o elemento de ligação;

10 – Enfim, Hugo & Rose pode surpreender, e principalmente, pode agradar numa leitura mais exigente, pois contém elementos interessantes a serem observados, assim como pode nos provocar (dando certa passionalidade ao leitor), e no meu caso aconteceu um bocado, com diversos momentos de vontade de entrar no livro e esganar Rose. Ou seja, não vá ao livro esperando um romance açucarado, pois temos nessa narrativa, talvez um chocolate amargo, que ainda que tenha amor, é seus dramas e temores que constituem seu melhor, numa mistura entre o doce e o amargo;





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