10 Perguntas inéditas para Carol Bensimon


















O Blog Listas Literárias leu e adorou Todos Nós Adorávamos Caubóis, e hoje na seção com 10 perguntas inéditas, conversamos com a autora Carol Bensimon, que fala do livro, e também da carreira como escritora. Espero que curtam:


1 - Todos Nós Adorávamos Caubóis rejuvenesce as tramas de aventura e as histórias de estrada trazendo temas atuais como a sexualidade, e a globalização onde as distâncias são muito pequenas. Como surgiu o desenho desta aventura?

Acho que funciona mais ou menos assim: a gente vai colando paisagens, assuntos que gostaria de abordar, cenas, personagens, e aí tenta ligar tudo com um mínimo de coerência. No caso do Todos nós adorávamos caubóis, a primeira coisa que eu vi surgir foi a Cora, a narradora. Em contornos bem rudimentares, é claro. No início, eu sabia que ela seria bissexual e estudante de moda em Paris. E aí ela foi ficando mais complexa à medida que a história se desenhava com mais detalhes na minha cabeça. A Julia, a outra personagem, nasce quase esquemática também, de uma necessidade de colocar em cena alguém que contrastasse com a Cora, que fosse de certa forma o seu oposto. Depois ela também vai se recheando de elementos que a individualizam, como o fato de ter crescido no interior, a relação com a família, a experiência no pensionato durante a faculdade, etc. O reencontro das duas é justamente a viagem de carro. Acho que a ideia era isolá-las em lugares desconhecidos, e ver de que forma isso poderia influenciar essa nova relação que vai se desenhando aos poucos.

2 - Cora e Julia partem numa sonhada viagem sem planejamento. Isso já foi desejo da própria autora, ou uma realização?

Quando eu era mais jovem, ouvi essas propostas algumas vezes, mas nunca embarquei nessa história de ir pra um lugar qualquer apenas pela diversão que o deslocamento proporciona, embora eu sempre ficasse muito tentada a fazer isso. Enfim, conflitos de juventude. Eu nunca encarei muito bem o fato de eu não ser impulsiva o suficiente. Quando você tem 30 anos, parece legal e sensato, mas, quando você tem 20, parece uma falha de caráter. Ao mesmo tempo, eu cultivava a vontade de viajar de carro pelos Estados Unidos, por exemplo. O que também era um plano que não saía do papel, porque nunca encontrava alguém com tempo e dinheiro pra me acompanhar. Em 2012, decidi então ir sozinha para a California e o Arizona. Estava escrevendo o Caubóis. Era outra paisagem, mas a sensação de estar lá deve ter ajudado na contrução do livro.

3 - Aproveitando para falar sobre essa viagem, há um retrato muito intimista e fiel da paisagem do Rio Grande do Sul e suas excentricidades. Houve algum laboratório anterior, visitações, pesquisa, enfim Carol fez o roteiro de Cora e Julia?

Sim. Visitei todos os lugares que aparecem no livro, 90% deles pela primeira vez. Foram várias viagens, ao longo de 2011 e 2012.

4 - Há na literatura muitos exemplos de personagens gays, no entanto entre mulheres não me parece muito comum concorda? Além disso, como você acha que os leitores enxergarão o relacionamento, pelo aspecto feminista de Cora ou "que legal, duas gurias bonitas se pegando"?

Concordo. Há poucas personagens lésbicas ou bissexuais na literatura, o que é um problema, porque toda minoria quer se ver representada, é importante existir um imaginário, e volta e meia dá pra notar que há uma demanda reprimida por isso. Não sei como os leitores enxergarão o relacionamento da Cora e Julia. Quer dizer, já dá pra notar que há visões bem diversas. O que é interessante. Além do mais, não posso ficar patrulhando as interpretações, nem impondo uma visão, se é que tenho uma perfeitamente definida.

5 - Pode parecer pequeno diante de outras coisas legais do livro, mas não é interessante como Montreal e Paris podem soar tão familiar, ao mesmo tempo que uma viagem pelo interior do estado possa revelar tantas coisas?

Que bom que isso te parece interessante, hehehe. Enfim, acho pertinente tua observação. No fundo, é uma questão de ponto de vista. A história está sendo mediada pelo olhar da Cora e, para ela, uma metrópole do Primeiro Mundo surpreende menos do que uma pequena cidade do interior do Estado. O que é natural, porque ela cresceu em um ambiente urbano, conectada ao mundo todo através da internet, e dentro de uma classe privilegiada. O livro todo é construído assim. Daí vem o estranhamento, e às vezes certo desconforto, que o meio rural causa na personagem. E também não dá pra esquecer que a situação com a Julia é a origem de parte dessa tensão. As coisas são misturadas e indissociáveis.

6 - Mudando um pouco de assunto, como é para você a arte de escrever, e o que poderia dizer para jovens que também almejam a vontade de escrever um livro?

É intenso, demorado, prazeroso e angustiante, tudo ao mesmo tempo. Para os jovens, posso dizer que é preciso ler muito, mas isso é meio óbvio. De qualquer maneira, segue valendo. Ler muito pra saber o que fazer e o que não fazer. E também pra gente ter certeza que não está inventando a roda. Acho que é importante também controlar a vontade de publicar rápido. Simplesmente não funciona assim. A literatura tem um ritmo muito próprio. Há um abismo entre o ritmo da literatura e o ritmo do nosso dia-a-dia, e lidar com isso não é fácil nem para o mais experiente dos escritores.

7 - Aliás, ser relacionada pela tradicional Revista Granta, como uma das 20 melhores jovens romancistas mudo muita coisa em sua carreira?

É difícil saber o que aconteceu (e acontece) por causa da Granta, e o que não tem absolutamente nada a ver com isso. Mas não há dúvida de que ter sido escolhida acaba funcionando como uma espécie de “selo de qualidade”. Dá mais visibilidade, e de repente pode ser um empurrãozinho a mais para quem está a fim de ler um livro meu, mas que não tem certeza se deve arriscar.

8 - Então, retornando a Todos Nós Adorávamos Caubóis, não daria um baita filme?

Honestamente, eu diria que sim. E tive mais certeza disso quando vi o booktrailer, dirigido pela Liliana Sulzbach. Ficou um belo trabalho. Os direitos audiovisuais do romance estão vendidos, aliás. Isso significa que podemos ter um filme. Não sei se em breve, mas um dia, quem sabe.


9 - Você destruiu minha crença no ET Bilu. Revelar esse segredo não te trará problemas com a Nasa?

Ué, e eu disse alguma coisa que alguém não sabia? De todo o modo, acho que a Nasa já está bem ciente do que o ET Bilu anda aprontando por essas bandas.

10 - Pra fechar, o olhar da Carol compartilha a mesma visão crítica e embasada de Cora, que é extremamente inteligente e consegue perceber a deterioração nas coisas, e nas pessoas?

Hahaha, vai ser chato eu me chamar de “extremamente inteligente”, enfim, é você que tá dizendo. Acho que a gente compartilha algumas coisas, sim. Mas nós não somos a mesma pessoa. Eu ia achar chato se fosse, quero dizer, não teria a mesma graça escrever, porque parte da diversão é criar situações e, a partir disso, pensar em como as personagens reagem. E a Cora é muito mais encantadora que eu.

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