Foi divulgada esta semana os resultados da nova pesquisa do Instituto Pró-Livro com os retratos da leitura no Brasil. O que já era preocupante ficou ainda pior, pois os dados apontaram números alarmantes do cenário da leitura em nossa nação. Selecionamos 10 números assustadores para comentar:
1 - 53% dos brasileiros não leem: Olha que o conceito do que é um leitor pode ser um tanto questionável na abordagem da leitura, mas enfim, para a pesquisa é leitor quem nos últimos 3 meses tenha lido um livro no todo ou em partes, enfim, consideramos que esse conceito englobe leitores-tentados, e mesmo nessa concepção aberta, o público leitor no Brasil é reduzidíssimo. E desde que a pesquisa começou a ser feita em 2007 pela primeira vez o número de não leitores superou o número de leitores no país. Isso é assustador e trágico, pois como pode avançar uma nação inculta e analfabeta funcional? Todavia, os números talvez não devessem nos surpreender, vivemos num país cuja parte de sua sociedade revelasse o ignorante orgulhoso de seu status, a leitura é relegada a poucos, pois parte dessa sociedade a observa com olhares pejorativos. Vimos isso nas escolas, nas universidades, nas empresas, no Brasil há quem se orgulhe de não ler nada. A não leitura em parte também nos identifica ao mesmo tempo que mostra o desafio que se tem pela frente. Um desafio que na verdade, exalte-se as tentativas de incentivo e apoio à leitura, seja pela escola, pela sociedade civil, pela internet (que aliás, a despeito de certa popularidade de blogs, youtubers e tiktokers, parece-nos não melhorar a situação se pensarmos os dados) pelo Estado (conforme quem o controla), temos falhado miseravelmente em convencer as pessoas da relevância da leitura para a nação;
2 - Apenas 27% leram um livro inteiro: Cremos que quando falamos leitores-tentados no item acima, este dado explicita isto de melhor forma. Se os números de leitores já alarmam, esse torna as coisas ainda piores, afinal, apenas 27% daqueles que são considerados leitores leram um livro completo nos últimos três meses. Isso reduz consideravelmente aqueles que efetivamente possuem o hábito da leitura com alguma regularidade. Na verdade temos ainda menos leitores do que os dados plenos da pesquisa apontam;
3 - 2 Livros inteiros lidos por ano: Outro dado alarmante mesmo entre leitores. A média anual de livros lidos por ano, longe das corridas disputadas por influencers (em muitos casos questionáveis), mal ultrapassa a cada dos dois. São 2,07 livros lidos por ano entre os leitores, outro número que vem caindo nos dados da pesquisa. Precisamos não apenas construir novos leitores, mas ampliar a leitura daqueles que já leem. Precisamos criar ou pensar atividades que incentivem pelo menos a leitura de um livro por mês, o que, em termos técnicos e extremamente viável;
4 - 3,61 livros lidos por leitores do Ensino Médio: A pesquisa assim como as de 2015 e 2007 demonstra algo que é percebido por professores, curiosamente alguma coisa ocorre com os leitores no Ensino Médio, já que reduz-se a média de leituras comparadas ao Ensino Fundamental (em que não há uma disciplina de literatura). Os números de leitura caem quando se chega a essa fase da vida e esse é um dado importante a se pensar, pois compreendê-lo será fundamental na elaboração de estratégias para solução do problema;
5 - 20% de leituras "estimuladas": Outro número que consideramos relevante considerar é a soma do percentual que a fazem por alguma estimulação que em grande parte é utilitarista. 6% dos leitores o fazem por exigência da escola ou faculdade, outros 6% para obter atualização profissional e 8% por razões religiosas, ou seja, buscam a leitura como uma espécie de mecanismo de troca, o que de certo modo altera a percepção tanto de prazer quanto do papel da leitura e da literatura entre nós. Além disso estes números em parte ajudam a entender a baixa média de leitura entre leitores;
6 - 38% dos leitores leem literatura: Falar de leitura e compreender que o termo abarca diferentes concepções e possibilidades. Leitura é um termo amplo, por isso quando falamos de leitores, especialmente na concepção desta pesquisa nem de perto estamos falando de leitores de literatura, interesse deste blog. Pobre Antonio Candido que via na literatura um direito, mas que talvez tivesse de ter pensado estratégias de estímulos que a sociedade despertasse para a luta por esse direito. No gráficos da pesquisa observamos que 38% dos leitores leram algo de literatura, ainda que em partes nos últimos três meses. Isso explica e demonstra o desafio daqueles que pretendem ou que trabalham com literatura no país, essa arte tão definidora e analítica de uma nação que de modo geral, mesmo nos casos de sucesso, resiste à margem de sua sociedade. Ao menos os que leem todos os dias ou ao menos uma vez por semana alcançam 18%;
7 - Qualidade da leitura: Por considerarmos o termo leitura em todas as suas ambiguidades, o que, importa em sempre ter cuidado em não superestimar tanto a leitura como a própria literatura, os dados sobre aquilo que os leitores leem também é sintomático de alguns problemas sociais que presenciamos. Falamos da qualidade da leitura ou daquilo que leem os leitores no Brasil. Entre os costumes de leitura dos leitores segundo o conceito da Retratos, 38% leem a Bíblia, 17% livros religiosos. Guardando todo o respeito, sabemos que tomar unicamente como base tais textos, é uma questão problemática e que entra em conflito com muita coisa. Soma-se a isso o hábito de 9% lerem autoajuda e 8% lerem trabalhos técnicos, mostram que há uma questão de qualidade envolvida na questão. Aliás, esses dados convergem com tudo aquilo que vemos nas listas de Mais Vendidos;
8 - 46% dizem não ler por falta de tempo: Próximo ao prédio onde moro há uma indústria. Nos intervalos centenas de operários e operários passam o tempo vidrados em seus celulares. Mas um deles, e curiosamente como isso nos chama atenção, usa seu intervalo de almoço para ler (desconfio que ele supera bastante a média de leitura anual). Está geralmente com um livro às mãos enquanto espera mais um turno de trabalho. Como ler nos diferencia, não? Trago o caso para debater justamente o falseamento de nossas justificativas. No caso da leitura o tempo é posto por muitos como o vilão, mas há escolhas. A leitura é uma escolha, trata-se de uma opção. Precisamos superar a barreira do tempo, todos temos tempo para a leitura e esse personagem que relato reforça esta minha compreensão;
9 - 78% usam a internet no tempo livro: As telas nos sequestraram. Aliás, a pesquisa Retratos da Leitura talvez nos seja um documento deste sequestro. A leitura e a literatura concorrem com muita coisa, mas a mais voraz certamente é a internet. Dos 18% em 2007 que usavam a internet em seu tempo livro chegaram os 78% em 2024. Os números desse dado subindo a cada edição consideravelmente. A internet ao mesmo passo que é aliada, não podemos desconsiderar, também uma concorrente para a leitura (de livros);
10 - 0% influenciam: Na boa, não sei se isso é bom ou ruim, mas no mínimo deveria nos levar a reconsiderar (especialmente as editoras) o termo influenciadores quando nos referimos a blogueiros, youtubers e tiktokers. Tanto em 2019 quanto em 2024 0% dos entrevistados disseram ter sidos influenciados por influenciadores da internet. Quando falamos influenciadores a liderança inabalável está concentrada em mães (9%) e professores (8%). Quem sabe aí está uma dica para editoras e pensadores no fomento da literatura, fomentar ações e atividades neste seleto grupo de influenciadores da leitura;
Acesse a pesquisa completa aqui.