O Blog Listas Literárias leu Sapiens - Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari publicado pela Companhia das Letras; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Não à toa Sapiens tem sido considerado um dos livros mais importantes dos últimos tempos; nele, Harari com uma lucidez tranquila e fugindo de sensos-comuns procura trazer o percorrer dos Homo Sapiens ao longo da história de uma forma panorâmica, didática, mas sem perder a relevância acadêmica e a profundidade com que se dedica a olhar a coletividade humana nos últimos milhares de anos;
2 - Vale dizer ainda, que embora o uso de uma linguagem acessível, o livro é científico, e parte daquilo que é o combustível da ciência: a pergunta. Elas pululam no decorrer da leitura, de modo que Harari é um grande questionador; também um ótimo provocador, pois que em sua análise ele constantemente confrontará "pequenas verdades", colocará em xeque "certas desconfianças", mas, acima de tudo, demonstrará o quanto a trajetória dos Sapiens se dá de forma coletiva e o transforma na espécie mais exitosa neste planeta;
3 - Neste construir de nossa jornada, o autor relembra inicialmente que nós, os Sapiens, não fomos os únicos humanos sobre esta terra, mas que ao cabo, sobrou apenas nós. Harari, inclusive, questionará a relação dos Sapiens com outros Homo, até mesmo propondo caminhos não tão conhecidos por todos nós na vida escolar, fazendo cair determinados mitos sobre essa presença e relação dos Sapiens com outras espécies humanas. Aliás, Harari questionará mesmo nossa "inocência" quanto ao desaparecimento de outras espécies humanas, até então, observadas de um modo simplificado, atirado seus desaparecimentos apenas às contas da evolução; É, portanto, também provocador;
4 - Mas acima de tudo, no livro, o autor concentrará suas argumentações e reflexões a três períodos (e aqui os períodos devem ser vistos em milênios, embora como a própria obra mostra, hoje as mudanças são bem mais rápidas) importantes para o êxito dos Sapiens em sua jornada, ou seja, a revolução agrícola que levou-os a começar a controlar o ambiente, a revolução cognitiva, entre 50 e 70.000 anos atrás quando não apenas a linguagem, mas o florescer da inteligência é demarcado e a revolução científica, esta última com um potencial absurdo de acelerar todas as coisas - ou por um fim imediato a tudo;
5 - Intrínseco a toda esta abordadas, a capacidade ímpar do Homo Sapiens em criar ficção, ou suas "realidades imaginadas", para o autor uma das questões mais importantes em nossa espécie. Harari se dedica um bom tempo a demonstrar como e quanto a cultura é construtora desse nosso mundo e ferramenta que possibilitou aos Homo Sapiens estabelecer seu império enquanto espécie terráquea;
6 - Nesse sentido, talvez seja interessante o fato de que a linguagem, embora abordada, não ganhe maiores reflexões em sua obra. Não se pode desmerecer o papel da linguagem nessa jornada, e não que Harari faça isso, contudo, ela é bastante coadjuvante em sua obra, ainda que o próprio autor vá trazer elementos que só podem ser construídos pela linguagem, caso das ficções, dos códigos... Além disso, os questionamentos do autor, se não bem compreendidos pelo leitor, às vezes podem soar com algum relativismo, pois o olhar do autor não será nunca para os pequenos grupos ou indivíduos, pois, em seu "Homo Sapiens" ele transforma em uno toda a coletividade humana que por aqui andou nos últimos milhões de anos;
7 - Dito isto, temos então uma obra que, com todo seu teor histórico, perpassará por tantas outras áreas do conhecimento; da história à biologia, passando pela física, pela sociologia; enfim, é uma leitura transdisciplinar bastante rica e que tão somente agrega a seus leitores;
8 - Outra questão interessante em sua obra é a ideia que geralmente nos remete o porquê conhecer a história. Mais do que um mergulho no passado, mera curiosidade, ou fofoca dos nossos antepassados, a busca por tal conhecimento na obra de Harari está marcada especialmente pela questão para onde vamos? ou estamos indo? Sapiens ao trazer uma breve história da humanidade parece justamente lançar seus holofotes para o futuro;
9 - Isto fica mais evidente nas partes finais do livro quando o presente se insinua para as possibilidades futuras. É como - e o autor meio que traz isso - se ele estivesse no vértice de algo a ser compreendido, a iminência de uma singularidade que parece capaz de mudar tudo que não apenas sabemos ou construímos sobre o mundo, mas o próprio mundo. É um convite a pararmos a pensar a pergunta, mas afinal, o que queremos querer?
10 - Enfim, Harari em Sapiens nos conduz saborosamente pela história coletiva da humanidade. Faz com nossa jornada o que Carl Sagan fez com o Cosmos. Nos dá uma visão lúcida e desarraigada de grandes vícios sobre as diferentes verdades dessa caminhada - mesmo as mais inconvenientes. Para que deseja entender pelo menos algum milésima fração do que e quem somos, é leitura obrigatória.