O Blog Listas Literárias leu A vida privada dos doze césares, de P. F. H D'hancarville publicado pela Editora Degustar; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Salvo edições privadas fora do comércio, os editores do livro acreditam ser esta "a primeira tradução desta obra para o português, traduzida diretamente do original de 1780", o que ao leitor já será percebido, claro, no estilo setecentista do texto. "As gravuras foram extraídas de uma cópia de uma edição privada alemã" e em seu conjunto o livro trata de parte da história do sexo e de como este esta ligado com a política [de seu tempo] e mesmo com a literatura;
2 - Aliás, a obra é bem curiosa. A seu modo e de acordo com seu contexto, é um trabalho que talvez se aproxime [e não se leia isto literalmente, de modo que não me acusem desta comparação] de uma obra acadêmica. Ao trazer os comportamentos sexuais gravados em camafeus, em moedas, D'Hancarville elabora textos sobre tais comportamentos, não apenas do pretenso ou acontecido fato pervertido, mas construindo uma série de intertextos que tal como na escrita acadêmica funcionam como certa concessão de autoridade; Ele cita de poetas e historiadores na construção de seu próprio texto, o que enriquece a produção;
3 - Todavia, perceberá o leitor que a posição do autor está longe de qualquer neutralidade. O julgamento moral é constante e as desgraças e tiranias dos governos romanos não raro são relacionadas à devassidão dos comportamentos, a pederastia, enfim aos costumes impudicos de suas sociedades;
4 - Mas enfim. Em síntese o livro é isto: um conjunto de textos a partir de toda uma arte erótica romana em que o autor acaba falando de eventos específicos de devassidão dos césares, mas não apenas isto, relacionando e partindo de toda uma literatura a dar conta da presença desse erotismo, ainda que, conforme apontam os próprios editores haja a complexidade da questão de autoria presente;
5 - Entretanto, reforçam os editores "o fato é que, no final do século XVIII, havia um rico mercado de obras eróticas, necessariamente clandestinas, para a qual a autenticidade importava menos que a excitação provocada pela obra, e seu caráter histórico acrescentava-lhe um ar de seriedade";
6 - Aliás, essas são as intenções de D'Hancarville, segundo ele a partir de sua permanência em Roma e acesso às coleções de antiguidades que "não foram mencionadas por nenhum autor" escrever sobre estas, "que representam a história satírica dos primeiros Imperadores ou das escandalosas cenas de depravação, relatada de maneira tão minuciosa e viva por seus contemporâneos";
7 - Em seu trabalho, veremos, portanto, a busca do autor por narrar os supostos acontecimentos gravados nessas peças. É uma tentativa de contar as histórias selecionadas e em muitos casos socorrer-se de uma ou outra citação que lhe auxilie em sua escrita do que haveria representado em tais peças;
8 - A partir disso, temos então um longo desfilar das orgias romanas; dos incestos, pederastias e toda e qualquer relação de natureza sexual que vossa imaginação possa conceber. A bem da verdade o autor nos apresenta uma cidade que cheira a libido. Talvez algumas possam conter algum exagero, mas de modo geral está em diálogo com o que já sabemos daqueles tempos "libertinos";
9 - E aí uma questão a se refletir e ponderar. Temos que considerar todos os contextos, sempre importante frisar. Há uma tentativa do autor de meio que pincelar ainda mais negativamente os tiranos, os doze césares contemplados na escrita, por meio da visão moralista que agrega ainda mais "vilania" a personagens já tão conhecidamente desconcertantes. Mas tenho certeza que esse é o tipo de leitura que atrai bons leitores, estes sempre muito capazes de enquadrar cada contexto que seja necessário;
10 - Enfim, o livro, assim como a proposta da Editora Degustar é deveras interessante. Quanto a D'Hancarville que no mínimo vai instigar a sua curiosidade e encher-lhe de referências literárias sobre a libido e o prazer.