Em uma coluna na Revista Bula, provocativo como sempre, Edson Aran faz um alerta relevante, "ou o Brasil acaba com os autores de autoajuda ou eles acabam com o Brasil". Faz sentido num país que lista de mais vendidos é dominada por eles. Por isso, hoje sintetizamos algumas razões para você preferir ficção, confira:
1 - A primeira é bem clara, que livro de autoajuda não ajuda você porcaria alguma, mas é bastante eficiente para ajudar umas poucas pessoas, o autor, o editor e os vendedores, mais que isso, é falácia;
2 - A ficção é essencial não apenas na construção de um imaginário, mas no próprio processo de formação de uma identidade nacional, caso, por exemplo, do Brasil. Nossa literatura nos constitui, nos dá uma identidade marcada por nossas complexidades e contradições;
3 - Alfredo Bosi, impostante pensador brasileiro fala da capacidade da literatura em ser "mentira" acabar desnudando as mais exigentes verdades. Pense, por exemplo, como podemos entender mais acerca dos regimes autoritários do país através da literatura que por outros meios. Mesmo quando, caso dos anos 60 e 70 ela tem de partir para o maravilhoso, é quando seu realismo e a denúncia de uma ditadura são mais pungentes e não caem no esquecimento;
4 - O pensador contemporâneo Yuval Noah Harari nos fala da capacidade humana de compreender o mundo por meio de narrativas, mais do que isso, fala de como elas, como por exemplo a ficção científica, são capazes de mediar questões complexas e torná-las mais compreensíveis de modo que como diz ele, podemos não ter lido artigos na Science ou artigos sobre computação, mas grande parte de nós assistiu a Black Mirror, leu uma FC, etc...
5 - As ficções, mesmo as mais baratas, a mais ruins, as populares, as de massa, as dos grã-finos, enfim, todas elas podem somar para a compreensão de uma determinada época, período, ou evento, ou você acha, por exemplo, que é aleatório que numa literatura até que recente tenhamos tantas heroínas jovens e virgens? ou que romances sensuais fizeram tanto sucesso com mamães? É possível que a verdade também esteja lá fora, mas também está na ficção;
6 - Tudo que foi dito até aqui é impossível para os livros de autoajuda. reforça-se. Especialmente porque para além do desperdício de papel, de tinta para impressão, a autoajuda é tão perecível quanto um pé de alface, um chuchu largado ao sol. Não raro você encontrar alguém a citar personagens ou situações da ficção para falar de suas vidas, quando, curiosamente, as leituras de autoajuda nem para isso servem;
7 - Uma das possibilidades sobre isto talvez seja a alteridade e a empatia que a literatura e a ficção possibilitam. Você pode se enxergar no outro e pelo outro, na autoajuda no máximo você encontrará alguém narcísico falando de si mesmo e o quanto ele pode ajudar a você leitor, desde que você não seja você, mas ele;
8 - Tudo bem que ficções podem doer. Mas alguém já viu remédio docinho prestar? Sua mãe era sábia quando lhe atirava óleo de rícino boca adentro repetindo "é amargo, mas vai curar". A ficção tem um pouco disso, às vezes pela amargura, mas também pelo entretenimento, pode nos abrir os olhos a muitas coisas;
9 - O mundo sobreviveria sem livros de autoajuda. Tire dele todos esses autores e obras de autoajuda, e o mundo seguirá sem qualquer mudança. Agora tente fazer com seus Shakespeares, com a Ilíada, Odisseia, sem os contos orientais, tire-nos Machado, Jorge Amado, Guimarães Rosa e até mesmo o babaca do José de Alencar e veja o que nos sobra;
10 - Ler ficção te dá sabedoria suficiente para perceber que autoajuda é cilada, Bino.
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