Ei Ei Ei. 10 Considerações sobre A Zona Morta, de Stephen King. A Banca leva.

O Blog Listas Literárias leu A Zona Morta, de Stephen King, relançado pela editora Suma de Letras; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Publicado pela primeira vez em 1979 e relançado este ano pela Suma de Letras, A Zona Morta é uma narrativa típica de Stephen King em que o suspense permeará o ambiente habitado por personagens palpáveis num plano de fundo que não deixa de ter suas ambições, tudo isto no ritmo quase musical da prosa de King cujo tensionamento vai elevando-se a medida que vencemos vorazmente suas páginas;

2 - Criando suspense a partir dos mistérios que ainda se encontram em nossas mentes, o livro traz John Smith, um professor de ensino médio que anos após um acidente na infância volta a acidentar-se ficando em coma por quase cinco anos, para então, depois de "voltar" para a vida o fazê-lo como portador de um "dom" ou de uma "maldição" conforme a perspectiva, mas para além do poder descoberto, são na verdade muito mais as perguntas que advém desta problemática que importam à narrativa, pois a capacidade de desnudar as pessoas e o próprio tempo é uma coisa, o que fazer com tal possibilidade é que complica e muito a vida de Johnny;

3 - Mas antes de penetrarmos mais pelo livro, retornemos à sua ao ano de sua publicação, pois não muito comum à narrativa de King, neste A Zona Morta, o fundo histórico ao que o autor está inserido é bastante presente no romance. Essa é uma lembrança importante porque os leitores de hoje verão a ambientação política do livro já com esta distância, entretanto relembrar que King narra a trama muito próximo aos acontecimentos abre uma série de perspectivas e já apontam que desde então, embora não seja o foco de sua escrita, o autor está antenado nos movimentos políticos de seu país, e mais do que nunca este livro é exemplo;

4 - Tal observação também é relevante porque a partir deste olhar político Stephen King moverá suas personagens de modo que não se trata apenas de um pano de fundo. Aquele era ainda um momento de grande perturbações e agitações políticas para os americanos; além disso serão as figuras históricas e suas proximidades fictícias que farão o drama de Johnny ampliar-se, além é claro que através disso retomar ainda o trauma da Segunda Guerra Mundial;

5 - Então ao perguntar por meio de John Smith "e se fosse possível matar Hitler lá por 1932, você o faria?" o autor debate até que ponto se é possível combater a tirania tornando-se um tirano. Do mesmo modo tal pergunta surge porque Greg Stillson além de ser o modelo perigoso de muitos políticos à época, também poderia exemplificar um "ene" número de políticos contemporâneos, que tempo vai tempo vem trazem à tona tal questionamento;

6 - Portanto, neste romance parece-me que vamos além do próprio suspense, pois para além do desenvolvimento da trama Stephen King deixa perguntas incômodas e complexas no ar, que de certo modo ele não se propõe a responder (o que é bom, só para dizer) pois a ação final de Johnny Smith e suas consequências acabam deixando as coisas num meio termo  que de todo modo se não maculam "o herói", por outro aplica-lhe "a punição" capaz de dar ideia do quanto Smith também corrompe-se ao final, o que torna as coisas mais interessantes e qualificadas;

7 - Assim, ainda que saibamos que o autor é um escritor de massas e que não perde o olho no mercado, também não podemos deixar de observar que de certo modo suas narrativas trazem elementos e discussões que estão mais além do que o simples entretenimento, pois ao mesmo tempo que nos "diverte" e nos aprisiona em seus thrillers dinâmicos e envolventes o autor consegue criar cenários e reflexões humanas que instigam sempre um aprofundar-se nas distintas camadas do livro;

8 - É que, como já disse doutras leituras de King aqui no Blog, o autor talvez como poucos é capaz de dar vida e voz a personagens de uma camada média da sociedade americana. E a vida que King lhes dá é palpável como se suas personagens saltassem do Maine para os livros com tanta credibilidade que não é difícil vê-los como figuras reais que através da escrita de Stephen King ganham uma visibilidade que provavelmente nunca teriam;

9 - Ou seja, A Zona Morta já é um dos clássicos do autor, e seu suspense é carregado de discussões relevantes que constroem um somatório muito interessante para chamar atenção dos leitores mais exigentes. Além disso, a narrativa é vibrante e envolvente que além das reflexões propostas não perte o ritmo da ação tão característico às narrativas do autor;

10 - Enfim, dos mistérios do coma e da mente ao que "fazermos" diante políticos populistas e sem escrúpulos, o livro traz todas as marcas presentes na obra do autor e acrescenta ainda notas peculiares de discussão política e sobre valores, especialmente sobre valores quando dotados de um grande poder, que será o grande desafio a ser enfrentado por John Smith, que a despeito de suas ações, o fato de elas provocarem uma reflexão mais exigente é o que fala mais positivamente do romance.



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