10 Dicas infalíveis para escrever um romance medíocre

Geralmente as listas com dicas para escrever partem de autores que usam de seus conhecimentos para compartilhar técnicas e sugestões sobre a arte de escrever. Contudo, a lista de hoje é construída a partir da exigência de um leitor (e ainda que específico, certamente poderá encontrar ecos noutros leitores) formando uma linha geral a partir de seu gosto, para então se chegar a uma lista com "o que não fazer", ou no caso como fazer algo medíocre, confira:



1 -  Escreva seu livro sem ter uma bagagem de leitura: Pode parecer que escritores forçam a barra no sentido de dizer que antes de um escritor, precisa-se de um leitor, no entanto, essa é uma questão que deve ser seguida à risca. Qualquer leitor, já portador de uma criticidade mínima é capaz de reconhecer que toda obra é uma reunião de vozes, e, como leitor, posso afirmar que é possível encontrar no mercado obras que servem como exemplo do quanto a falta de bagagem de leitura é fatal num texto. Portanto, é praticamente impossível que alguém que não tenha lido uns cem livros, pelo menos, seja capaz de produzir algo relevante;

2 - Não acompanhe o mundo: Outra dica essencial para escrever obras medíocres é não acompanhar o mundo, seja com experiências pessoais, seja acompanhar os principais acontecimentos globais por meio de jornais, estudos, etc... Isso pode parecer necessário, desde que você como leitor já não tivesse se deparado com obras que por exemplo, "nos ensinam que o Capitólio é o parlamento de Londres";

3 - Esqueça a linguagem: Um problema comum que pode ser encontrado em muitas obras está relacionado à linguagem (e não falo aqui das gralhas eventuais e presentes em grande parte das obras". A linguagem é a ferramenta do escritor, e já vi casos em que ela é esquecida, é má utilizada, ou então, em alguns casos a linguagem acaba interferindo diretamente na verossimilhança da obra;

4 - Escreva para ficar rico e ser famoso: Não tenho dúvida que há muitos autores nesta categoria, porém esse é um fator que pode denunciar explicitamente a mediocridade de determinadas obras. Acontece que o sujeito (ou "sujeita") que escreve sob estes parâmetros não esta comprometida com a obra em si. Autores deste gênero costumam a não criar um estilo marcante e estão pouco interessados com o legado de suas obras, sendo que muitos são tão, tão medíocres que se regozijam com isso;

5 - Escreva pensando no filme que vão fazer de seu livro: Outro fenômeno moderno surgido com a popularização dos cinemas é a de escritores que escrevem livros como se fossem praticamente um roteiro, já com o imaginário de uma adaptação para o cinema. Ah, e antes de mais nada, não sou contra adaptações, todavia, uma autor minimamente preparado saberia que cada obra é uma nova obra; o filme baseado no livro é um nova obra, assim é muito mais útil para a arte que se pense unicamente na obra que queres criar. Quando eu leio não desejo pensar no filme que vai ser feito, mas sim na obra propriamente dita;

6 - Fique no raso: Uma grande parte do mercado editorial é composta por obras que são como nós com medo de águas perigosas: optam literalmente por permanecer no raso, personagens rasas, trama rasa, e jamais tentam sequer um mergulho mais profundo. Acontece que na literatura o raso é mal, o profundo é necessário, independente de qual tipo de leitura você goste, afinal, mesmo em gêneros depreciados como os da fantasia e o romance policial são seus inscritos mais profundos que se destacam;

7 - Meu estilo é que nem o do...: Tenho medo quando o próprio autor se declara próximo à escrita de outro autor. Se por um lado falei que toda obra é a soma de um conjunto de vozes, entenda-se que esse conjunto dará vida a uma nova voz, esta, com sua própria identidade e originalidade. No entanto, há sempre muita confusão entre ser influenciado e basicamente seguir uma receita já feita e transcorrida. Os autores deste segundo caso dificilmente vão produzir algo relevante;

8 - Escreva o que o seu leitor quer ouvir: Se o seu leitor não é do tipo alienado que consome qualquer porcaria que lhe despejem, escrever o que ele deseja ouvir é um risco para cair na mediocridade. Na verdade, um leitor experiente sabe quando o autor tenta penetrar num local seguro imaginando escrever o que ele queria ouvir, porém, um leitor de verdade espera que a obra lhe traga algo para além do que ele já espera;

9 - Escreva para ser canônico: Desconfio deste, tanto do que busca apenas fama. Não acredito que nenhum autor consiga intencionalmente escrever algo com a certeza de que se tornará canônico. Aliás, muitos que tentam pagam pela mediocridade de pretensão. No final, as obras que ficam dependem de uma série de fatores que as tornam imortais. Vejo o panteão das obras canônicas como a investigação de uma acidente aéreo, e preciso identificar uma série de elementos aleatórios que colocam a obra naquele específico lugar;

10 - Tente parecer culto e inteligente: Outra coisa muito atual, o tipo de livro que busca transparecer o que não é, ou demonstrar o que não têm. Só pra exemplificar, sem observarmos de obras que citam Shakespeare mas que tenho lá minhas dúvidas que que seus autores leram minimamente uma de suas peças, é incrível;

E pra vocês, o que seria um romance medíocre?

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