10 Considerações sobre Em Busca de Abrigo ou porque é preciso compreender as gerações…

O Blog Listas Literárias leu Em Busca de Abrigo, de Jojo Moyes publicado pela editora Betrand Brasil; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – Em Busca de Abrigo é um romance de bastante densidade dramática que se estrutura numa narrativa clássica perpassando o tempo para contar os diferentes conflitos na família de Joy Ballantyne, o que nos proporciona um novo olhar sobre temas que de algum modo já nos são conhecidos com a incompreensão entre gerações, os esqueletos de famílias guardados, e os amores não resolvidos;

2 - Esse desnudamento da família Ballantyne se dá em diferentes momentos no tempo, sendo num presente em que a jovem Sabine se vê obrigada a ir passar as férias com os avós com os quais tem pouco relacionamento, e para isso indo para uma região remota da Irlanda, e no passado de Joy que vai sendo reconstruído, mas que desde o início o leitor tem posse de indícios que revelam que há segredos guardados que de certa forma mascaram sua aparente felicidade completa;

3 – Com isso vamos tendo acesso aos primeiros conflitos do livro, especialmente do princípio tumultuado de Sabine com os avós por causa do afastamento, bem como do choque cultural entre o urbano e o rural, e especialmente pelos conceitos já definidos que acabam dificultando a relação inicial entre todos na propriedade de Kilcarrion, que aliás, como nos romances do final do século XIX é tão presente e particular como se constituísse uma personagem;

4 – Além disso, os conflitos imediatos entre Sabine e os avós, entre ela e o lugar, são compartilhados pelos conflitos da jovem com sua mãe, Kate, uma mulher de trinta e poucos anos com experiências desastradas no âmbito amoroso e que por causa disso e das visões de Sabine quanto ao assunto acaba provocando um choque imenso e estabelecendo um gigantesco muro entre mãe e filha;

5 – Porém a proposta do romance parece ser a de justamente apresentar uma escalada linear da incompreensão para a aceitação através do restabelecimento de linhas de contato ou então da alteração de concepções a partir de uma série de acontecimentos, mas não sem antes aprofundar velhas dores e feridas;

6 – Portanto, no livro o que encontramos é uma família de posses marcada pela falta de diálogo, ou então pela vitória da visão de que um supõe do outro, e assim por meio de mal entendidos, silêncios e até mesmo, fortes cisões. Com isso temos uma família em rota de choque e que não se suporta, mas que diante da iminente morte de um deles, precisam conviver e a partir disso tentar ao menos amenizar suas brigas;

7 – No entanto, o leitor mais atento perceberá que embora consistente, há determinadas situações da narrativa em que a barra parece um pouco forçada, como no encantamento de Sabine com Thom, cuja impressão inicial (talvez por ser o ponto de vista encantado da garota) é de alguém não muito mais velha que ela, mas que algum tempo depois assume o papel de um cara com idade para ser seu pai; Além disso, tanto nas personagens que através de suas falas exprimem um forte determinismo, como a própria aceitação de Sabine como grande amazonas por causa de sua genética, ou então o próprio fato de que a garota em determinado momento aja de uma forma exatamente a algo que sua tão criticada mãe fizera no passado;

8 – De certa forma o livro fala de expectativas e frustrações, e acima de tudo revela que o olhar do outro nem sempre pode estar correto, como veremos inclusive diante das revelações da sisuda senhora Joy Ballantyne que a despeito de sua história de amor perfeito deixa como lição que a perfeição é questionável e que por trás das aparências há decisões e escolhas que são necessárias, cada uma com seu peso e tamanho;

9 – Com tudo isso temos um romance constituído por personagens que senão desconhecidas em sua gênese, são porém fortes e contundentes, tendo cada uma delas um determinado papel de relevância no contexto em que a narrativa escolhe desenvolver-se. É um romance sólido no quesito personagens, que em grande parte delas que nos obrigam a ir além das camadas superficiais para compreendê-las;

10 – Enfim, Em Busca de Abrigo é uma leitura que remete a estruturas clássicas do romance se formatando a partir dos dramas de uma família específica numa propriedade que parece ter vida própria ao acompanhar os dramas que se desenvolvem nesse ambiente. E ainda que o livro se enverede por terrenos já visitados, o faz com tintas próprias e consegue de um modo interessante envolver o leitor nos conflitos geracionais que narra.



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