10 Considerações sobre Aimó, de Reginaldo Prandi, ou sobre uma leitura odara

O Blog Listas Literárias leu Aimó, de Reginaldo Prandi publicado pela editora Seguinte; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Didático e bem elaborado, em Aimó Reginaldo Prandi pela síntese da ficção retoma seu trabalho de A Mitologia dos Orixás, apresentando a um público mais amplo, de de forma atrativa a riqueza cultural de matriz africana e sua contribuição para o Brasil;

2 - Para fazer isto, o autor constrói uma nova narrativa que bem poderia somar-se à mitologia dos orixás, contando a história da pequena Aimó, uma menina sem identidade que para reencontrar-se percorrerá uma jornada conhecendo o mito guiada pelos próprios orixás, especialmente Exu e Ifá;

3 - A narrativa se dá a partir da própria cultura afro, quando a pequena Aimó perdida no Orum e sem a possibilidade de voltar ao Aiê, provoca uma grande inundação e a partir daí por determinação de Olorum, guiada por Exu e Ifá, a menina visita os principais acontecimentos da mitologia orixá;

4 - A partir disso, a obra então ganha seus contornos didáticos e explicitando suas principais intenções que é justamente compartilhar com o público o conhecimento desta mitologia, ainda negligenciada no país a despeito de toda sua relevância para nossa própria formação cultural;

5 - Nesse sentido, contudo, é preciso problematizar justamente o quanto a intenção didática avança para sobre a literatura, pois perceberá o leitor (e o que não é negado pela própria nota do autor) de que a narrativa nesse caso está a serviço da proposta, de modo que a apresentação da mitologia orixá se sobrepõe à trama;

6 - Mas como essa é a proposta da obra, ainda que se perca em valores literários, ganha-se pelo alcance e pela riqueza visual e cultural que se coloca diante dos leitores, principalmente porque em grande parte desconhece a mitologia dos orixás, mas que com essa publicação, poderá ao menos ver e conhecer um poder visual tão forte e impressionante quanto outras mitologias, do mesmo modo que poderá o leitor estabelecer pontos de contatos entre mitologias e também conhecer aquilo que é particular aos orixás, um universo imensamente rico e de íntima ligação com a natureza;

7 - Além disso, pela forma como Prandi constrói sua narrativa, bastante acessível, não só superar uma velha negligência editorial, a obra pode colaborar ainda para diminuir os preconceitos do grande público, que em grande parte desconhece o universo dos orixás;

8 - Somado a isso, ainda que de forma tangencial, o livro toca numa ferida ainda aberta no Brasil, a escravidão, momento histórico a que está ligada a protagonista e curiosa Aimó;

9 - Portanto, para os que procuram conhecer melhor as diferentes mitologias, Aimó, por sua característica, e uma porta de entrada interessante para os que desejam saber mais sobre os mundos dos orixás, ao mesmo tempo que podem realizar uma leitura fluida e de tonalidades fantásticas de grandes riquezas em que a união entre o espiritual e o humano tem sua voz própria;

10 - Enfim, provavelmente o grande feito de Aimó seja justamente o de servir como aproximação dos leigos e desconhecedores da mitologia orixá deste universo fantástico. Para os conhecedores desta cultura, soma-se a bela construção de Aimó, ainda que o restante não lhes seja desconhecido, contudo, para o público amplo, Prandi abre uma imensa janela, uma janela que serve de ponte e está carregada de ótimas intenções e resultados.



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