10 Considerações sobre Tarântula, de Bob Dylan ou cuide-se com artrópodes

O Blog Listas Literárias leu Tarântula, de Bob Dylan publicado pela editora Tusquets; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Emblemático talvez seja uma boa definição para este estranhíssimo Tarântula, de Bob Dylan. A obra publicada nos anos 70 só depois de se disseminar por cópias ilegais teve sua publicação oficial não pertence a nenhuma das caixas habituais que se tende a classificar as ficções e reúne em seu miolo uma prosa fragmentada e enigmática compartilhada com versos líricos que poderíamos aproximar da poesia modernista aqui do Brasil;

2 - Adormecido por décadas, agora após a escolha de Dylan como Nobel de Literatura, obviamente os olhos voltam-se a ele, especialmente às suas palavras, com isso Tarântula é republicado pela Tusquets e nos apresenta e nos joga a um tempo turbulento em que a ânsia de protestar, de falar e também de apontar as coisas estão presentes neste livro de Dylan;

3 - É, contudo, uma destas obras desafiadoras porque as estruturas caóticas e o fluxo livre das palavras exigem de seus leitores mais do que atenção, mas sim inúmeros retornos aos seu fragmentos que ao fim não deixam de ser um retrato de um espaço e de uma época que de certo modo refletem as angústias do autor;

4 - Além disso, não se pode desprezar a que olhava Dylan ao escrever cada pedaço de Tarântula, visto que suas alegorias & metáforas & críticas & desilusões & arroubos dão sempre a sensação de possuir destinos que ora são bem claros, ora são obscurecidos pela sintaxe labirintítica da narrativa e da lírica ampliando a sensação única a permanecer do princípio ao fim da publicação: o estranhamento.

5 - Além do estranhamento poderíamos ainda destacar a angústia presente, algo que se revela pelo ritmo das palavras, tanto na prosa quanto na lírica, pois o tempo de leitura é invadido por uma percepção de urgência, de necessidade, escancara uma voz que precisa falar, que precisa logicamente ter voz num mundo externo que claramente impacta o autor com bastante força;

6 - Por isso temos nesses fragmentos confusos & verborrágicos & eloquentes & tensos & estranhos & dedo apontando para as feridas um olhar sob influência da guerra fria & das guerras não-frias, da censura, do medo atômico & da cena cultural, da sociedade observada cheia de defeitos e incongruências pela hábil escamoteação verbal de Dylan;

7 - Do mesmo modo, se não escapa das "patas da tarântula" de Dylan a crítica ampla à sociedade, é inegável também que boa parte destes fragmentos apontam algumas vezes para alvos específicos, às vezes para elogiar, outras para desmontar & criticar pessoas & instituições & governo & tudo mais. Em alguns casos o dedão de Dylan apontado é claro como água, noutros haverá  o leitor de ir à fundo para tentar descobrir seus alvos;

8 - Aliás, esse é um dos riscos atuais da leitura de Tarântula hoje. Dylan a escreveu em seu tempo e em boa parte parece só pertencer a ele pois com o esmaecimento da memória social e a distância criada, em certos momentos tudo pode soar ininteligível ao leitor de hoje, pois há uma série de particularidades que encontram dificuldade de chegar ao universal;

9 - Todavia não significa que não haja ecos ou relevância da leitura da obra neste presente, especialmente porque a ânsia e a angústia são partilhadas pelo leitor de hoje e o de ontem e assim o olhar mais humanista e cultural de Dylan pode ser reverberado, especialmente porque há nos dias atuais essa mesma necessidade de falar & opinar & participar & entender o mundo que nos cerca. Aliás, há em Tarântula essa busca intensa em busca de compreensão.

10 - Enfim, não se pode negar, Tarântula é uma obra de vanguarda (aliás, vale repetir, bem próxima de algumas obras no nosso modernismo da década de 20) que nos estranha e nos provoca com seus mistérios a ser decifrado. É uma leitura que nos obriga a retomá-la sempre e a cada retomada nosvas perspectivas abrem-se.



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