10 Considerações sobre O Manuscrito, de Chris Pavone ou porque todo livro é uma ameaça

O Blog Listas Literárias leu O Manuscrito, de Chris Pavone publicado pela editora Arqueiro; neste post a avaliação de Douglas Eralldo do livro, confira (Mas atenção, há spoilers, portanto sugiro avaliar a sequência da leitura):

1 - O Manuscrito, de Chris Pavone é um thriller que se por um lado tenta manter um ritmo frenético de acontecimentos, por outro peca por suas fragilidades que não passam despercebidas dos leitores fãs do gênero. É uma história que pode entreter, mas convencer o leitor já é um pouco mais complicado;

2 - O livro até busca manter o formato tradicional dos thrillers com uma trama que sugere urgência e com seus capítulos curtos em que a agente literária Isabel Reed vê-se as voltas do perigo por causa de um manuscrito anônimo. Essa opção estabelece toda a ação do livro, que inclusive norteia a narrativa, no entanto, apenas a ação não consegue segurar toda a obra;

3 - É que dentre uma das fragilidades do livro esta seu enredo, que embora atraente, soa um tanto inverossímil, especialmente por concentrar a ação em 24 horas apressando os processos editoriais. Além disso, toda a ação desencadeada com a tentativa de manter à sombra o manuscrito soa com exagero, especialmente a tentativa de relacionar a história de um magnata da mídia com uma ação política;

4 - Sem falar que os excertos do manuscrito que são apresentados no livro acabam não sendo lá tão explosivos como poderíamos imaginar para uma obra que acaba provocando uma série de ações internacionais tendo com reflexo uma série de mortes, tudo iniciado por uma história tipo Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado que adormece até o mundo dos adultos, poderosos e executivos;

5 -  No entanto, é preciso dizer que a obra consegue amarrar muito bem suas revelações que não deixam de surpreender os leitores, especialmente na parte final do livro, além de promover lutas e tiros suficientes que mantem a atenção na obra;

6 - Um detalhe interessante do livro é que mais do que a própria narrativa, ele parece ter a intenção de apresentar um pouco mais do universo editorial (cheio de egos e absolutamente capitalista) através de suas personagens que se movimentam enquanto o narrador vai tecendo comentários e até mesmo opiniões sobre este mercado, não poupando acidez para com autores, editores, etc...

7 - Aliás, as escolhas do narrador e as vozes que ele dá às personagens auxiliam o estranhamento do leitor para com a obra, especialmente porque torna todos personagens muito iguais, quase que uma cópia um do outro, inclusive de suas visões acerca de seus respectivos universos, o que acaba não dando vida própria a nenhum deles. Somado a isso, cada personagem parece ser uma versão estereotipada cuja confirmação vai se dando pelas afirmações do narrador;

8 - Além disso, as conveniências pontuais também saltam aos olhos do leitor como o do caso do editor prestes a falir que terá a chance de salvar-se graças a este manuscrito bombástico. Esse aliás, foi um dos detalhes que me chamou a atenção, porém cumpre ressaltar que em alguns casos "estas aparentes conveniências" acabam se justificando com as revelações finais do livro;

9 - Porém, de tudo, o mais incompreensível é o fato de que para se manter obscuro o manuscrito, os agentes de certo alguém percorrem todo o mercado editorial americano alertando todo editor sobre a possibilidade da existência do manuscrito, o que somado a outros detalhes revela um amadorismo sem tamanho por parte daqueles que tentam manter o manuscrito escondido, e de certa forma fragiliza o enredo;

10 - Enfim, O Manuscrito pode até ser uma boa leitura, desde que você como leitor não busque exigir demais da obra, esta que se dissecada acaba nos revelando uma série de fragilidades, especialmente de constituição e ambientação. No entanto, se você busca apenas por tiros e sangue, pode ser uma boa distração para momentos de relaxamento.




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